32º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Sb 6,12-16; Sl 62[63; 1Ts 4,13-18; Mt 25,1-13)

1. O nosso ano litúrgico caminha para o seu final e a liturgia, tradicionalmente nos convida a lançar um olhar para frente, para as últimas realidades. O texto principal, que é o Evangelho, traz o tema da vigilância, da vinda última de Cristo, convidando-nos, com a 1ª leitura, a uma atitude de sabedoria, de sensatez, enquanto esperamos.

2. Mas o outro tema, que se liga com esse, está na 2ª leitura, onde Paulo busca trazer um pouco de luz ao tema da morte que marca o início desse mês de novembro. Que nos diz a fé cristã a respeito desse tema? Algo simples e grandioso: a morte é uma realidade, é o maior dos nossos problemas..., mas Cristo venceu a morte!

3. Com Cristo, essa realidade se reveste de outra compreensão. Cristo a venceu não evitando-a ou repelindo como um inimigo de que devemos nos desbaratar. A vence submetendo-se a ela em todo seu amargor. Ele a vence a partir de dentro.

4. Vários textos do Novo Testamento deixam claro essa luta que Ele mesmo travou com a morte, compartilhando nosso medo. É Ele que chora de pavor no Getsêmani. E grita na cruz, sentindo-se abandonado. Ele entra na morte como quem atravessa um espaço escuro sem saber o que ali se esconde.

5. É na confiança em Deus que Ele faz sua travessia. Mas aquele homem trazia dento de si o Verbo de Deus que não pode morrer. A morte se deu conta que não podia ‘digerir’ a Cristo e teve que devolvê-lo à vida. Jesus cita essa realidade ao falar da experiência de Jonas no ventre da baleia.

6. Assim, temos uma releitura da morte como um processo de passagem, uma Páscoa. Através dela entramos na verdadeira vida, que não conhece a morte. Essa é a novidade cristã: nós pertencemos a Deus mais que a nós mesmos. A sua morte é mais nossa que a nossa própria morte.

7. Quando se trata da morte, a coisa mais importante, no cristianismo, não é o fato que devemos morrer, mas o fato de que Cristo morreu. Jesus veio nos libertar desse medo ao assumir um corpo como o nosso, partilhando nossa realidade e transformando o nosso fim. Nessa travessia não estamos mais sozinhos.

8. A Igreja rejeita a eutanásia, porque ela retira da morte humana a sua ligação com a morte de Cristo, desvincula do seu caráter pascal; torna-se uma obra humana, decisão de uma liberdade finita. Ela é literalmente profanada, isto é, perde seu caráter sagrado.

9. A humanidade busca ‘remédios’ contra a morte. Mas o único e verdadeiro remédio é participar da vitória de Cristo sobre a morte. Ancoramo-nos n’Ele, pela fé, como um barco no porto, para resistir às grandes ondas que estão por abater-nos.

10. Francisco de Assis, abraçando toda a realidade humana a partir dessa união com Cristo chega a chamar a morte de irmã, ao final de sua vida terrestre. Ela tinha mudado sua feição.

11. Mas essa atitude de Francisco não veio assim, ao improviso. Diz um ditado que a árvore cai para lado que pende. Assim somos nós. E assim nos lembra a parábola das dez jovens. É preciso trazer alguma reserva de óleo consigo, isto é, alimentar a fé com as boas obras e a oração, de modo que à vinda de Cristo possamos também nós, como as jovens sábias, entrar com Ele para a festa de casamento.

Pe. João Bosco Vieira Leite