Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo – Ano A

(Ez 34,11-12; Sl 22[23]; 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46)

1. Nesse último domingo do Tempo Comum, celebramos a festa de Cristo Rei. O evangelho nos sugere aquele que será o último ato da história humana: o juízo universal. Aquele que um dia foi apresentado como Rei, de pé e acorrentado, perante Pilatos, agora aparece sentado, para julgar os homens e a história.

2. Esta cena faz parte da fé imutável da Igreja e em seu credo continua a proclamar: “E de novo a de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos. E o seu reino não terá fim”.

3. Nesses tantos milênios de vida sobre a Terra, o ser humano se acostumou a tudo; se adaptou ao clima, imunizou-se diante de tantas doenças. Mas há algo ao qual não se adaptou: as injustiças. Continua a senti-la como algo intolerável. Nos rebelamos diante da ideia do mal, a prepotência que permanece não punida e triunfante. É a esta sede de justiça que responderá o juízo.

4. Sem essa fé no juízo final, todo o mundo e a história tornam-se incompreensíveis, escandalosos. Quem já visitou a praça de São Pedro em Roma, a princípio acha confusa a disposição das colunas ao redor da praça, mas basta colocar-se num determinado ponto ali marcado e sua observação muda completamente. Como por encanto, elas se alinham como se fosse uma só coluna. É o milagre da perspectiva. Precisamos colocar-nos no ponto justo, para entrever alguma ordem no caos. Este ponto é o juízo de Deus. 

5. A cada dia se somam mais notícias de atrocidades. Criminosos horrendos se dizem inocentes com um sorriso nos lábios, pois parecem ter no ‘bolso’, juízes e tribunais. A liturgia quer nos lembrar que o verdadeiro juízo ainda não se deu. Ele nos espera do outro lado da porta.

6. Que será daqueles que não só não deram de comer a quem tinha fome, mas lhe tiraram a comida; não só não hospedaram o forasteiro, mas os tornaram hóspedes e forasteiros; que não só não visitaram um encarcerado, mas o colocaram injustamente na prisão, sequestraram, abusaram, mataram?

7. Mas não podemos nos iludir olhando as coisas somente a partir de grandes injustiças. Tudo isso reflete, um pouco, certas situações em que vivemos nós diante dos mandamentos divinos. Nós violamos alegremente esses mandamentos, um após o outro, muitas vezes com a desculpas de que todos fazem assim. Mas Deus não os revogou por causa disso. Assim o evangelho nos diz que nossa segurança é fictícia, um terrível engano. 

8. Quantas vezes, no mundo político, reagimos indignados quando finalmente pensamos que se fará justiça e de repente toda a responsabilidade penal vem cancelada; é isto que também esperamos de Deus, no plano espiritual: uma esponja que apague tudo. Pois, se diz, Deus é bom e perdoa tudo. Se não fosse assim, que Deus seria? Sem pensar que se Deus cedesse a um pacto com o pecado, entraria em colapso a distinção entre o bem e o mal e com isso o Universo inteiro.

9. Não podemos deixar no esquecimento que biblicamente Deus também pode ter uma ‘mão pesada’. Ou de modo muito simples: Deus é bom, mas não é bobo.

10. Alguém poderia tentar se consolar dizendo que, afinal de contas, o dia do juízo é algo distante, talvez daqui a milhões de anos. Mas Jesus, no Evangelho, nos responde: ‘Tolo, quem lhe assegura que nessa mesma noite não pedirão conta da tua vida?’

11. O tema do juízo final se entrelaça, nessa liturgia, com aquele do bom pastor em nosso salmo. O sentido é claro: no momento Cristo está conosco como Bom Pastor, um dia será constrito a ser nosso juiz. Agora é o tempo da misericórdia, depois virá o tempo da justiça.

12. Para nós está a escolha, em tempo, escolher quem queremos encontrar: com o Juiz ou Bom Pastor? Oxalá, esse tempo que passamos juntos refletindo sobre o Evangelho nesse ano, nos tenha ajudado a conhecer melhor o Bom Pastor e assim a não temer o Juiz.

Pe. João Bosco Vieira Leite