Sábado, 07 de janeiro de 2023

(1Jo 5,14-21; Sl 149; Jo 2,1-11) Tempo do Natal.

“Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou sua glória,

e seus discípulos creram nele” Jo 2,11.

“O evangelista João não diz que Jesus fez ‘milagres’ ou ‘prodígios’. Ele os chama ‘sinais’, porque não são gestos que apontam para algo mais profundo do que podem ver nossos olhos. Em concreto, os sinais que Jesus realiza orientam para sua pessoa e nos revelam sua força salvadora. O que sucedeu em Caná da Galileia é o começo de todos os sinais. O protótipo dos sinais que Jesus irá operando ao longo de sua vida. Nessa ‘transformação da água em vinho’ nos é dada a chave para entender o tipo de transformação salvadora que Jesus opera. Tudo ocorre no cenário de um casamento, a festa humana por excelência, o símbolo mais expressivo do amor, a melhor imagem da tradição bíblica para evocar a comunhão definitiva de Deus com o ser humano. A salvação de Jesus Cristo deve ser vivida e oferecida por seus seguidores como uma festa que dá plenitude às festas humanas, quando elas ficam vazias, ‘sem vinho’ e sem capacidade de saciar nossa sede de felicidade total. O relato sugere algo mais. A água só pode ser saboreada como vinho quando, seguindo as palavras de Jesus, é ‘tirada’ de seis grandes talhas de pedra, utilizadas elos judeus para purificações. A religião da lei, escrita em tábuas de pedra, está extinta; não há água capaz de purificar ser humano. Esta religião deve ser libertada pelo amor e pela vida que Jesus comunica. Por isso não se pode evangelizar de qualquer maneira. Para comunicar a força transformadora de Jesus não bastam palavras, são necessários os gestos. Evangelizar não é só falar, pregar ou ensinar; menos ainda julgar, ameaçar ou condenar. É necessário atualizar, com fidelidade criativa, os sinais que Jesus fazia para introduzir a alegria de Deus, fazendo mais feliz a vida dura daqueles camponeses. Para muitos contemporâneos, a palavra da Igreja os deixa indiferentes. Nossas celebrações os aborrecem. Eles precisam conhecer sinais mais próximos e amistosos da Igreja, para descobrir nos cristãos a capacidade de Jesus para aliviar o sofrimento e a dureza da vida. Quem vai querer escutar hoje o que já não se apresenta mais como boa notícia, especialmente quando é apresentado invocando o Evangelho com tom autoritário e ameaçador? Jesus Cristo é esperado por muitos como uma força e um estímulo para viver de maneira mais sensata e feliz. Se só conhecem uma ‘região aguada’ e não podem saborear algo da alegria festiva que se transmite, muito continuarão a afastar-se” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – João – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite