(Is 8,23—9,3; Sl 26[27]; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4,12-23)
1. Com esse terceiro domingo do Tempo
Comum iniciamos a leitura semicontínua do Evangelho de Mateus. O 1º e 2º
domingos ficam, por assim dizer, atrelados ao Tempo do Natal. Jesus, já
batizado, é apresentado por João Batista, este desaparece de cena com a sua
prisão e assim tem início a atividade pública de Jesus.
2. Assim como os primeiros discípulos,
seguimos Jesus, luz do mundo, para que tenhamos “a luz da vida” e, como na
nossa oração inicial, dirija nossa vida segundo seu amor e faça frutificar em
boas obras, a graça que viemos receber, alimentando-nos de Sua Palavra e da Eucaristia.
Sob o aspecto da luz, gostaria de conduzir nossa reflexão.
3. “Luz, mais luz”, teriam sido as
últimas palavras de um poeta alemão. “Onde há muita luz, mais forte é a
sombra”, havia sentenciado. Mas se é verdade que luz e sombra andam de mãos
dadas, também é verdade que onde resplende muitíssima luz divina, faz-se luz
sem sombras.
4. Assim Isaías profetiza sobre um
tempo em que o norte da Palestina, considerada terra das trevas, em oposição ao
sul, onde estava Jerusalém, a terra santa da Judeia, seria inundada por uma
grande luz. A Galileia era a terra escura e precisamente o espaço escolhido
para ressaltar muito mais o efeito da luz.
5. Deus chega luminoso para quebrar a
vara do opressor e tirar o jugo que pesa sobre o povo. Neste contexto, os bons
israelitas costumavam cantar o salmo 26: “O Senhor é minha luz e salvação, de
quem terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem eu
tremerei?”
6. Assim não devemos ter medo se as
trevas nos invadem, porque é a então que a luz pode aparecer, e aparecerá, se a
acolhermos, em todo seu esplendor. Os místicos nos falam da ‘Noite escura’.
Temos de passar por áreas tenebrosas, nas quais escutamos a voz do Senhor que
nos dirige e afugenta nossos terrores.
7. Assim Mateus se serve dessa profecia
para introduzir a ação de Jesus que começa a ser luz dos territórios
paganizados da Galileia. Jesus é a Luz missionária, Luz itinerante. Por onde
Ele passa tudo se ilumina, tudo recobra vida. Sua passagem acendeu os corações
dos primeiros discípulos, levando-os a tomada de decisões.
8. Hoje padecemos de uma enorme falta
de sentido. Não nos bastam as análises de jornalistas especialistas em questões
atuais, não nos bastam as explicações científicas. Para que nos serve uma
certeza de morte, depois de uma análise exaustiva? Jesus e seus discípulos não
atestavam a morte, iluminavam, davam sentido à vida.
9. Muita gente admirava e seguia Paulo.
Porém, ele cuidava de identificar-se bem com a luz. Não queria fanatismo em
torno da sua pessoa. Renuncia inclusive às palavras de sabedoria para não
anular a cruz de Cristo. A luz só nos vem dele. Quem ama Jesus, apaixonadamente
como Paulo, se oculta, desaparece como um humilde servo.
10. Que boa advertência para nós quando
pretendemos ocupar postos brilhantes e até acreditamos ser luminares que
esperam a admiração dos que nos contemplam! Tempo estranhos esses que
contabilizamos os seguidores e até nos frustramos com os números. Alguns são
até influenciadores. Afinal de contas, quem é a nossa luz?
11. Por fim, lembremos que Jesus veio trazer fogo à
terra e como gostaria que já estivesse aceso! Sua aspiração era conseguir que
tudo ardesse, que tudo fosse iluminado. Ele nos chama e nos envolve nessa
grande linha de transmissão que chegue até os últimos rincões da terra para que
ninguém fique às escuras. “Somos velas acesas por ti...”.
Pe. João Bosco Vieira Leite