(Is 9,1-6; Sl 95[96]; Tt 2,11-14; Lc 2,1-14) *
1. Ao
celebramos o nascimento de Jesus, filho de Deus, uma primeira verdade nos é
recordada. Deus não é perene solidão, mas um círculo de amor no recíproco
dar-se e um dar-se sem cessar. Ele é Pai, Filho e Espírito Santo. Em Jesus
Cristo, o próprio Deus se fez homem.
2. Deus é
tão grande que se pode fazer pequeno. Deus é tão poderoso que se pode fazer
inerme e vir ter conosco como um menino indefeso, para que o possamos amar.
Deus é tão bom que renuncia ao seu esplendor divino e desce ao estábulo para
que o possamos encontrar e, assim, a sua bondade chegue também a nós, se nos
comunique e continue a agir por nosso intermédio.
3. O
profeta Isaías nos diz que para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz
resplendeceu. A palavra ‘luz’ permeia toda a liturgia desta Missa. Paulo nos
diz que a graça de Deus se manifestou. Manifestação, epifania, é a irrupção da
luz divina no mundo cheio de escuridão e problemas insolúveis.
4. Por fim,
o Evangelho narra-nos que apareceu a Glória de Deus aos pastores e os envolveu
em luz. Deus é luz. A luz é fonte de vida. Mas a luz significa sobretudo
conhecimento, significa verdade em contraposição com a escuridão da mentira e
da ignorância.
5. Além
disso, enquanto gera calor, a luz significa também amor. Onde há amor,
levanta-se uma luz no mundo; onde há ódio, o mundo permanece na escuridão. É
verdade, no estábulo de Belém, apareceu a grande luz que o mundo espera. A luz
de Belém nunca mais se apagou.
6. Ao longo
dos séculos, envolveu homens e mulheres, ‘cercou-os de luz’, onde despontou a
fé naquele Menino, aí desabrochou também a caridade - a bondade para com todos,
a carinhosa atenção pelos débeis e doentes, a graça do perdão.
7. Nesse
rasto de luz, desde Paulo e Agostinho até São Francisco e são Domingos, desde
Francisco Xavier e Teresa de Ávila até Madre Teresa de Calcutá e Ir. Dulce –
vemos esta corrente de bondade, este caminho de luz que se inflama, sempre de
novo, no Mistério de Belém, naquele Deus que se fez Menino. Contra a violência
deste mundo, Deus opõe, naquele Menino, a sua bondade e chama-nos a seguir o
Menino.
8. Deixemos
que se comunique a nós esse esplendor interior, que acenda no nosso coração a
chama da bondade de Deus; todos nós levemos, com o nosso amor, a luz ao mundo!
Não deixemos que esta chama luminosa se apague por causa das correntes frias do
nosso tempo.
9. A outra
palavra-mestra da liturgia desta noite santa é ‘paz’. Isaias chamava a esse
Menino de ‘Príncipe da Paz’. Aos pastores se anuncia a paz. E aos homens por
ele amados. Os pastores o são em sua simplicidade e abertura a Deus. Eles se
colocam a caminho para levarem a Sua paz.
10. Deus
ama a todos, porque todos são criaturas suas. Mas, algumas pessoas têm a sua
alma fechada; o seu amor não encontra qualquer acesso a eles. Pensam que não
têm necessidade de Deus; não O querem. Outros, que moralmente talvez sejam
igualmente miseráveis e pecadores, pelo menos sofrem com isso. Estes esperam
Deus. No seu íntimo, aberto à expectativa, a luz de Deus pode entrar, e com ela
a sua paz.
11.
Peçamos-lhe para fazer com que não encontre fechado o nosso coração.
Esforcemo-nos por nos tornarmos capazes de ser portadores ativos da sua paz –
precisamente no nosso tempo.
12. É na
celebração Eucarística que nós cristãos buscamos essa paz de Cristo. Assim,
estende-se uma rede de paz sobre o mundo inteiro. Quando celebramos a
Eucaristia, encontramo-nos em Belém, na ‘Casa do Pão’. Cristo dá-se a nós, e
assim nos dá a sua paz. Levando-a em nosso íntimo, comuniquemos aos outros.
13. Por
isso, concluímos com esta súplica: Senhor, realizai a vossa Promessa! Fazei
que, onde houver discórdia, nasça a paz! Fazei que desponte o amor, onde reinar
o ódio! Fazei que suja a luz, onde dominarem as trevas! Fazei que nos tornemos
portadores da vossa paz! Amém.
* Essa
reflexão tem por base texto de Bento XVI.
Pe. João
Bosco Vieira Leite