3º Domingo do Advento – Ano B

(Is 61,1-2.10-11; Sl Lc 1; 1Ts 5,16-24; Jo 1,6-8.19-28) *

1. Voltamos à figura de João Batista, a quem Jesus define como “o maior dos profetas”. Basicamente é a mesma apresentação do domingo anterior, mas quem nos escreve é o evangelista João, com quem nos encontraremos diversas vezes nesse ano de Marcos.

2. Assim, podemos nos voltar sobre um outro tema presente nas leituras e que dá nome a esse domingo: ‘a alegria’, marcando assim, essa passagem de um caráter mais penitencial da 1ª parte do advento para a 2ª, dominada pela expectativa da salvação já próxima.

3. É Paulo quem dá o tom da liturgia, nesse seu convite a alegrar-se. O tema da alegria está presente também nas palavras de Isaias que exulta de alegria no Senhor, no salmo que toma o Magnificat de Maria para intercalar as leituras.

4. Ser feliz talvez seja o desejo humano mais universal. A palavra Evangelho significa ‘alegre’ ou ‘boa notícia’. Mas o discurso da Bíblia sobre a alegria é um discurso realístico, não idealístico. Nesse mesmo evangelho de João, Jesus a compara a uma mulher em trabalho de parto (16,20-22).

5. De um modo geral, a gravidez não é um período fácil para a mulher: desconfortos, limitações: não pode fazer, comer, vestir tudo o que gostaria. Contudo, quando se trata de uma gravidez desejada, vivida em clima sereno, não é tempo de tristeza, mas de alegria.

6. O porque é simples: se olha para o futuro nesse desejo contínuo de ter em seus braços a própria criatura. Muitas mulheres testemunham que não há nenhuma outra experiência humana a que se possa comparar com a felicidade que se experimenta ao se tornar mãe.

7. Tudo isso quer nos lembrar algo bem preciso: as alegrias duradouras amadurecem sempre no sacrifício. Dizemos que não há rosa sem espinho. Prazer e dor se seguem um ao outro com a mesma regularidade das ondas que se desmancham na areia da praia.  

8. Nós sempre buscamos separar esses dois ‘irmãos siameses’, de isolar o prazer da dor. Mas não conseguimos, porque é sempre o prazer desordenado que se transforma em amargor. Um viciado bem o sabe. Não podendo separar prazer e dor, é preciso escolher: ou um prazer passageiro que leva a uma dor duradoura, ou uma dor passageira que leva a um prazer duradouro.

9. Isto não vale apenas para um prazer espiritual, mas para toda alegria humana honesta: aquela de um nascimento, de uma família unida, de uma festa, de um trabalho levado de maneira feliz até fim, a alegria de um amor abençoado, de uma amizade, de uma boa colheita para o agricultor, da criação artística para o artista, de uma vitória para o atleta.

10. Todas essas alegrias requerem também sacrifício, renúncias, fidelidade ao dever, constância, esforço; mas o resultado é bem diferente do prazer fácil que termina em si mesmo. No 1º caso a felicidade de um é também a felicidade dos outros, é uma alegria comum, partilhada; no 2º quase sempre a felicidade de um é paga pela infelicidade de um outro, ou de vários. A alegria é como água: pode ser límpida ou turva.

11. Para quem crê, a felicidade será sempre algo a esperar? Estará só para o céu? Não necessariamente. Há uma alegria secreta e profunda que consiste na própria espera. Talvez seja esta, no mundo, a forma mais pura da alegria. A alegria que está no esperar.

12. Uma das mentiras com que o maligno seduz as pessoas, é fazer crer que Deus é inimigo do prazer, e no entanto, o prazer é uma invenção divina. Não precisamos ter medo de admitir que experimentamos prazer ou alegria em determinado momento: seria um bem para os que estão ao nosso redor. 

13. Não derramemos sobre os outros sempre e só as nossas tristezas, nossos males e preocupações. Para as nossas crianças e jovens o melhor presente, é respirar o ar da alegria em seus lares. Sem ela, os presentes se tornam inúteis ou mesmo danosos...

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite