Sagrada Família, Jesus, Maria e José

(Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Lc 2,22-40) *

1. A festa de hoje toca essa realidade humana em que Jesus quis nascer: uma família. A família é constituída por um conjunto de relações. Partindo dessa realidade esposo e esposa, esta pode se estender a relação pais e filhos. Hoje há uma tendência, em parte, de fechar aqui o cerco familiar.

2. Mas esta pode abrir-se um pouco mais, incluindo aqui os avós, ampliando ainda mais a relação de gerações. As leituras desse ano nos possibilitam refletir sobre esse componente familiar: os idosos. Estes vivem uma situação nova com todas as mudanças da sociedade moderna. 

3. Seu papel mudou com a moderna organização do trabalho e suas novas técnicas, mais que a experiência, estas favorecem o público mais jovem. Em algumas situações familiares dessa nova formatação marido, mulher e filho, os encontros são menos frequentes gerando solidão, marginalização, empobrecimento da vida familiar, particularmente para as crianças.

4. A Bíblia e, de modo geral, as sociedades antigas, os idosos não constituíam uma idade ‘inútil’, mas eram verdadeiros pilares em torno dos quais giravam a família e a sociedade. Hoje, chamar alguém de ‘velho’ pode soar ofensivo, mas já foi uma honra, simplesmente ‘envelhecer’.

5. Para alguns, aposentar-se pode ser um prazer para outros uma preocupação. Estar fora do mercado de trabalho ou da ‘verdadeira vida’, pode ser um problema. Mas há aqueles que fazem desse momento o início de nova operosidade, de dedicar-se a uma nova atividade gratificante e criativa.

6. Há aqueles que se dedicam a trabalhos voluntários ou mesmo se voltam mais ao sagrado, às comunidades de fé, sejam para colaborar em algo ou mesmo para recuperar o tempo que negligenciaram de sua relação com Deus. Quantos de nós não devemos o nosso êxito do caminho graças a alguém que rezava por nós?

7. No ancião, seja homem ou mulher, podemos encontrar uma certa calma, um certo olhar, que o faz elemento de equilíbrio em uma família, induzindo à reflexão e paciência. Uma das situações mais penosas para os idosos é assistirem impotentes esfacelar-se o matrimônio dos filhos com todas as consequências para os netos. Também aqui vale escutá-los.

8. Em todos os tempos sempre existiu o desafio de adaptar-se às mudanças que vão acontecendo na sociedade, particularmente aos anciãos. Saber apreciar as novidades e os valores positivos que trazem as novas gerações. Não se tornar alguém que simplesmente só sabe louvar os tempos antigos.

9. Todas essas novas realidades estão inclusas na Palavra de Deus. A 1ª leitura comenta o quarto mandamento em ‘honrar’ os pais, seja naquilo que nos tornamos, pois os pais são honrados nos filhos; seja na assistência das necessidades econômicas. Seja no simples reconhecimento: ‘honrar’ quer dizer: você tem importância para mim.

10. Paulo fala de buscar, para as nossas relações, virtudes ou sentimentos que as tornem possíveis: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência. Sejam para as relações de um modo geral ou para o seio familiar, numa clara capacidade de cada um rever suas atitudes.

11. Simeão e Ana, nosso casal idoso do Evangelho nos falam de uma virtude fundamental: a esperança. Simeão esperou uma vida para ver o Messias. Quantos país não desejam verem seus filhos instalados na vida. Verem seus filhos reconciliados com Deus.

12. Continuemos a esperar e a rezar. A esperança é o verdadeiro elixir da eterna juventude. Se dizemos que ‘enquanto há vida, há esperança’, é ainda mais verdadeiro o contrário: ‘enquanto há esperança, há vida’.   

* Reflexão com base em texto de Raniero Cantalamessa.

Pe. João Bosco Vieira Leite