Imaculada Conceição de Nossa Senhora – 2023

(Gn 3,9-15; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)*

1. A solenidade que hoje celebramos tem a ver com a Imaculada Conceição da Virgem Maria no seio de Ana, sua mãe, ou seja, isenta de pecado. Esta realidade é diferente da maternidade virginal, que se refere a Jesus, concebido e nascido de Maria sendo virgem, uma geração depois.

2. A devoção à Imaculada Conceição remonta ao século X. Tal expressão não se encontra na Bíblia, mas foi acolhida pela Igreja como uma intuição da fé que a comunidade recebe do Espírito Santo que a conduz. O dogma propriamente dito veio com Pio IX em 1854.

3. Por dogma, entendamos, um ponto de doutrina que não pode ser preterido, mas nos é proposto como ponto de apoio para progredirmos em nossa compreensão da fé. Mas tal intuição da fé não é alheia à Bíblia. A liturgia de hoje nos oferece alguns textos que, graças a essa fé, revelam seu sentido mais profundo.

4. A 1ª leitura nos leva de volta ao paraíso, onde nos sabemos representados por Adão e Eva para nos falar do pecado da humanidade universal, que todas as gerações continuamente reproduzem: a cobiça que dirige o desejo para aquilo que não nos pertence, e o orgulho de querer ser como Deus, porém, de um modo contrário ao projeto de Deus, que seria ‘imagem e semelhança’.

5. Isso é simbolizado pelo fruto da árvore do paraíso, uma ninharia que Deus se reservou na imensa abundância do paraíso, mas é precisamente essa coisa reservada a Deus que o ser humano cobiçou, inspirado pelo arqui-inimigo de Deus e de si mesmo, a serpente do desejo desregrado. Orgulho e cobiça...

6. Quando Deus nos fez à sua imagem e semelhança, nos quis participante do seu ser, que é Amor. A cobiça e orgulho são incompatíveis com esse projeto. Aquela que seria a mãe do Deus encarnado, não podia estar contaminada por essa cobiça e esse orgulho, que impediriam a plena realização do projeto de Deus.

7. Assim, Maria realizará de modo pleno o que Deus diz à serpente na conclusão dessa história do paraíso. Contemplamos em Maria, a nova Eva. Assim, ao Deus que faz nova todas as coisas, canta o salmo que se segue.

8. O Evangelho nos traz esse momento concreto em que Maria corrigi a falha da 1ª Eva e ao mesmo tempo encerra e supera toda uma série de eleitos de Deus desde Abraão. Ela é a plenitude onde esse amor de predileção de Deus se plenifica.

9. Se Maria tinha alguma dúvida de que Deus seria capaz de realizar nela a obra anunciada, e Lucas é sutil na sua composição, o anjo lhe informa sobre Isabel. Para que ela entenda que para Deus nada é impossível. Tudo se conclui no seu ‘sim’ onde vislumbramos sua entrega e a dimensão do serviço a Deus e aos irmãos. Vai apressada até a casa de Isabel.

10. Podemos comparar este ‘mistério’ com a construção de um palácio para um príncipe. O terreno deve ser bem preparado, limpo de toda poluição. Do mesmo modo, Maria é preparada sem mancha alguma para que, o ‘Principe da Paz’ (Is 9,6) tenha sua digna habitação.

11. Por fim, Paulo vem nos dizer que esse plano de Deus é para todos. Que somos destinados a ser sem mancha, ‘imaculados’. Deus é sempre, e seu amor para conosco, também, desde a eternidade, canta o apóstolo em seu hino. 

12. Ao mesmo tempo, Deus é a nossa meta, mas não a podemos alcançar por nossas próprias forças. Aí intervém a graça de Deus, dando-nos Cristo como Salvador e Cabeça; por Ele também, nosso pecado é apagado; nele temos a esperança, pois Deus nos adotou como seus filhos e filhas.          

* Esta reflexão tem por base o texto de Francisco Taborda e Johan Konings (“Celebrar o Dia do Senhor” – Paulus)

Pe. João Bosco Vieira Leite