(Gn 3,9-15; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)*
1. A solenidade que hoje
celebramos tem a ver com a Imaculada Conceição da Virgem Maria no seio de Ana,
sua mãe, ou seja, isenta de pecado. Esta realidade é diferente da maternidade
virginal, que se refere a Jesus, concebido e nascido de Maria sendo virgem, uma
geração depois.
2. A devoção à Imaculada
Conceição remonta ao século X. Tal expressão não se encontra na Bíblia, mas foi
acolhida pela Igreja como uma intuição da fé que a comunidade recebe do
Espírito Santo que a conduz. O dogma propriamente dito veio com Pio IX em 1854.
3. Por dogma, entendamos, um
ponto de doutrina que não pode ser preterido, mas nos é proposto como ponto de
apoio para progredirmos em nossa compreensão da fé. Mas tal intuição da fé não
é alheia à Bíblia. A liturgia de hoje nos oferece alguns textos que, graças a
essa fé, revelam seu sentido mais profundo.
4. A 1ª leitura nos leva de
volta ao paraíso, onde nos sabemos representados por Adão e Eva para nos falar
do pecado da humanidade universal, que todas as gerações continuamente
reproduzem: a cobiça que dirige o desejo para aquilo que não nos pertence, e o
orgulho de querer ser como Deus, porém, de um modo contrário ao projeto de
Deus, que seria ‘imagem e semelhança’.
5. Isso é simbolizado pelo fruto
da árvore do paraíso, uma ninharia que Deus se reservou na imensa abundância do
paraíso, mas é precisamente essa coisa reservada a Deus que o ser humano
cobiçou, inspirado pelo arqui-inimigo de Deus e de si mesmo, a serpente do
desejo desregrado. Orgulho e cobiça...
6. Quando Deus nos fez à sua
imagem e semelhança, nos quis participante do seu ser, que é Amor. A cobiça e
orgulho são incompatíveis com esse projeto. Aquela que seria a mãe do Deus
encarnado, não podia estar contaminada por essa cobiça e esse orgulho, que
impediriam a plena realização do projeto de Deus.
7. Assim, Maria realizará de
modo pleno o que Deus diz à serpente na conclusão dessa história do paraíso.
Contemplamos em Maria, a nova Eva. Assim, ao Deus que faz nova todas as coisas,
canta o salmo que se segue.
8. O Evangelho nos traz esse
momento concreto em que Maria corrigi a falha da 1ª Eva e ao mesmo tempo
encerra e supera toda uma série de eleitos de Deus desde Abraão. Ela é a
plenitude onde esse amor de predileção de Deus se plenifica.
9. Se Maria tinha alguma dúvida
de que Deus seria capaz de realizar nela a obra anunciada, e Lucas é sutil na
sua composição, o anjo lhe informa sobre Isabel. Para que ela entenda que para
Deus nada é impossível. Tudo se conclui no seu ‘sim’ onde vislumbramos sua
entrega e a dimensão do serviço a Deus e aos irmãos. Vai apressada até a casa
de Isabel.
10. Podemos comparar este
‘mistério’ com a construção de um palácio para um príncipe. O terreno deve ser
bem preparado, limpo de toda poluição. Do mesmo modo, Maria é preparada sem
mancha alguma para que, o ‘Principe da Paz’ (Is 9,6) tenha sua digna habitação.
11. Por fim, Paulo vem nos dizer
que esse plano de Deus é para todos. Que somos destinados a ser sem mancha,
‘imaculados’. Deus é sempre, e seu amor para conosco, também, desde a
eternidade, canta o apóstolo em seu hino.
12. Ao mesmo tempo, Deus é a
nossa meta, mas não a podemos alcançar por nossas próprias forças. Aí intervém
a graça de Deus, dando-nos Cristo como Salvador e Cabeça; por Ele também, nosso
pecado é apagado; nele temos a esperança, pois Deus nos adotou como seus filhos
e filhas.
* Esta reflexão tem por base o texto de Francisco
Taborda e Johan Konings (“Celebrar o Dia do Senhor” – Paulus)
Pe. João Bosco Vieira Leite