Terça, 31 de março de 2020


(Nm 21,4-9; Sl 101[102]; Jo 8,21-30) 
5ª Semana da Quaresma.

“Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é do seu agrado” Jo 8,29.

“Não se pode compreender nada do que foi a existência de Jesus Cristo, se não se considera que uma força o levantava de dentro, e lhe permitia superar a aflição ou o medo. Esta força era a vontade do Pai dos céus. O Evangelho de S. João explicita a consciência que Jesus tinha dela. Em todos os momentos de prova, Jesus se recoloca em face dessa Vontade. Ela é como o lugar interior, a casa em que ele habita e onde encontra paz, coragem e certeza. ‘Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então conhecereis que eu sou do alto, e que não faço nada de mim mesmo... Porque Aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque faço sempre o que lhe agrada’ (Jo 8,28-29). Esta convicção transforma para Jesus o desastre em vitória. Pois o que conta realmente para ele, não é nem obter sucesso junto das multidões, nem se impor aos fariseus e aos Escribas, nem mesmo ser rodeado por grupos de admiradores, mas sim, cumpri até o fim a Missão recebida. ‘Meu alimento é fazer a vontade do Pai, e realizar a sua obra’ (Jo 4,31). O grande meio de ação de Jesus é a sua obediência. É por ela que ele participa do poder de Deus e nos mostra que esse poder não é para a morte, mas para a vida. É obedecendo que Jesus transforma o curso da História, quebra as forças do mal ligadas contra si, e abre aos homens as perspectivas dum mundo fraterno. Nós o vemos também transformar em vitória o malogro que lhe é imposto pela recusa dos homens. A multidão pode se dispersar, decepcionada, após ter escutado as suas palavras. Isto não impede que elas fiquem e tenham um outro valor que o mero entusiasmo dum dia. Lisonjeando os seus ouvintes, Jesus teria conhecido um êxito bem efêmero. Dizendo-lhes o que é a vontade do Pai, ele lhes traz uma certeza. Ele atinge, então, para lá deles mesmos, todos aqueles que, no curso dos séculos, terão necessidade de saber que é Deus e como ela faz viver. De outro lado, não buscando aprovação senão d’Aquele que o enviou, Jesus é livre em relação ao juízo dos homens. Pode afirmar que é reto e o que é injusto, sem temer quem quer que seja” (A. Brien – Jésus Christ, ma liberté – Centurion 1972). 

Pe. João Bosco Vieira Leite