(Lv 19,1-2.11-18; Sl 18[19]; Mt 25,31-46)
1ª Semana da Quaresma.
“Quando o Filho do
homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em
seu trono glorioso...” Mt 25,31.
“Na história da
espiritualidade, dificilmente algum texto do evangelho de Mateus exerceu um
fascínio maior que o discurso sobre o juízo final. A vida e o amor dos cristãos
adquirem nele valor universal. O amor do próximo se dirige a todos os seres
humanos, sobretudo, porém, aos pobres e necessitados, sejam eles cristãos ou
não. Está em pauta um amor que não faz cálculos. Em última análise, esse amor
nem se dá conta de que, no próximo, está fazendo o bem ao próprio Cristo. É um
amor feito por amor, sem outras intenções. Essa atitude exerceu um grande
fascínio sobre o filósofo alemão Immanuel Kant. Mas há também ateístas que se
entusiasmaram com o texto que estamos abordando agora. A teologia da libertação
viu nessas palavras de Jesus o âmago mesmo do evangelho. Ela fala do sacramento
do próximo sem o qual não há caminho que leve a Deus (Luz III, 523). O texto
assumiu grande importância também no diálogo com outras religiões. O amor que
Jesus exige dos cristãos é dirigido a todos os seres humanos, independentemente
de sua religião, e é uma exigência que é compreendida também pelas outras
religiões. Quem quer que se trate o ser humano com amor cumpre o mandamento de
Jesus, mesmo que não tenha consciência disso, e no próximo ele encontra Jesus
Cristo, mesmo que nunca tenha ouvido falar dele. Os padres da Igreja viram
nesse texto sobretudo um convite à prática da misericórdia. Os cristãos deviam
dar uma atenção especial aos pobres, saciando a sua fome e a sua sede,
vestindo-os, curando as suas feridas e visitando-os na prisão. A lenda de São
Martinho, que divide o seu manto com um mendigo e tem depois, à noite, uma
visão de Jesus, que cita a passagem de Mt 25,40, deixou uma marca profunda na
consciência cristã. Orígenes interpretou as obras de misericórdia não apenas em
seu sentido literal, mas também em seu sentido espiritual, como vestidura com a
veste da sabedoria e como repartição do consolo espiritual” (Anselm Gurn
– Jesus, Mestre da Salvação – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite