Segunda, 02 de março de 2020


(Lv 19,1-2.11-18; Sl 18[19]; Mt 25,31-46) 
1ª Semana da Quaresma.

“Quando o Filho do homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso...” Mt 25,31.

“Na história da espiritualidade, dificilmente algum texto do evangelho de Mateus exerceu um fascínio maior que o discurso sobre o juízo final. A vida e o amor dos cristãos adquirem nele valor universal. O amor do próximo se dirige a todos os seres humanos, sobretudo, porém, aos pobres e necessitados, sejam eles cristãos ou não. Está em pauta um amor que não faz cálculos. Em última análise, esse amor nem se dá conta de que, no próximo, está fazendo o bem ao próprio Cristo. É um amor feito por amor, sem outras intenções. Essa atitude exerceu um grande fascínio sobre o filósofo alemão Immanuel Kant. Mas há também ateístas que se entusiasmaram com o texto que estamos abordando agora. A teologia da libertação viu nessas palavras de Jesus o âmago mesmo do evangelho. Ela fala do sacramento do próximo sem o qual não há caminho que leve a Deus (Luz III, 523). O texto assumiu grande importância também no diálogo com outras religiões. O amor que Jesus exige dos cristãos é dirigido a todos os seres humanos, independentemente de sua religião, e é uma exigência que é compreendida também pelas outras religiões. Quem quer que se trate o ser humano com amor cumpre o mandamento de Jesus, mesmo que não tenha consciência disso, e no próximo ele encontra Jesus Cristo, mesmo que nunca tenha ouvido falar dele. Os padres da Igreja viram nesse texto sobretudo um convite à prática da misericórdia. Os cristãos deviam dar uma atenção especial aos pobres, saciando a sua fome e a sua sede, vestindo-os, curando as suas feridas e visitando-os na prisão. A lenda de São Martinho, que divide o seu manto com um mendigo e tem depois, à noite, uma visão de Jesus, que cita a passagem de Mt 25,40, deixou uma marca profunda na consciência cristã. Orígenes interpretou as obras de misericórdia não apenas em seu sentido literal, mas também em seu sentido espiritual, como vestidura com a veste da sabedoria e como repartição do consolo espiritual” (Anselm Gurn – Jesus, Mestre da Salvação – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite