Quarta, 18 de março de 2020


(Dt 4,1.5-9; Sl 147[147B]; Mt 5,17-19) 
3ª Semana da Quaresma.

“Não penseis que vim abolir a lei e os profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” Mt 5,17.

“À primeira vista, Jesus parecia um iconoclasta da lei: curava em dia de sábado e permitia que os discípulos transgredissem tradições firmadas há séculos. Na realidade, porém, estava fazendo uma limpa no capinzal em que a lei se havia transformado. Além da limpa, estava também mostrando o sentido e profundidade da lei, lei que não é um simples jogo de obstáculos para ver quem é mais hábil, mas radiografia de homem no seu relacionamento com Deus. Nesse aspecto, a lei se tornava um instrumento ácido, acusatório e até mesmo destrutivo – pois desnudava culpas e pecados não apenas em atos, mas também em desejos e pensamentos. E, por último, consumava e cumpria a lei. Nenhum outro ser cumpria a lei em toda a sua extensão como ele, pessoalmente, o fez. Esse lado pessoal do cumprimento, no entanto, ainda não foi tudo. Ele a cumpriu de maneira ultra pessoal e universal, pois, tendo assumido a culpa de toda humanidade, quitou essa culpa com o castigo estipulado pela lei: a morte. Quando, pois, nos relacionamos com a lei, podemos ter em mente que todas as exigências dela e o seu próprio resultado: a morte – já foram assumidos em nosso lugar por aquele que veio consumar a lei. Essa, pois, é a nossa justiça, a nossa esperança, pois a lei não tem mais como nos oprimir ou castigar. Isso então quer dizer que estamos livres para o que bem entendemos? Sim, desde que a resposta seja levemente modificada: estamos livres para fazer o bem que entendemos. Santo Agostinho, aliás, já dizia: ‘Ama e faze o que quiseres’. Ora, quem ama, ama porque tem fé, tem-na porque foi perdoado, e quem foi perdoado entrou em comunhão com Cristo, e quem está nessa comunhão de amor e santidade quererá outra coisa que não o bem? – Senhor Jesus, dá-nos a fé no teu cumprimento da lei para nós também a cumprirmos através do teu poder. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite