1. A narrativa da transfiguração
do Senhor foi interpretada pelos evangelistas e pelos apóstolos à luz da
ressurreição. Talvez por isso tenhamos essa recomendação final no texto do
evangelho.
2. Para situar-nos no contexto da
narrativa, recordemos que o anúncio da paixão, morte e ressurreição precede o
acontecimento. Surpresa e depressão acompanham a reação dos apóstolos. Chocava
suas esperanças e a do povo judeu.
3. Assim, entendemos que Jesus se
transfigura e antecipa a sua glória de ressuscitado em função dos discípulos.
Temos aqui uma teofania, ao modelo das narrativas do Antigo Testamento. O ponto
alto é a voz do Pai que proclama a identidade de Jesus.
4. Objetivamente o nosso relato
está voltado para o mistério da ressurreição. Mas a chegada a esse ponto
depende de uma resposta ao chamado de Deus. Uma fé que se coloca a caminho,
como faz Jesus.
5. É nesse contexto do chamado
que ouvimos a primeira leitura, Abraão, é apresentado como modelo de
disponibilidade e perfeita obediência a Deus. Deus está retomando a unidade
perdida em Babel, originando, a partir de Abraão, o seu povo, Israel.
6. É a compreensão desse mistério
que Paulo partilha na segunda leitura. A vocação de Abraão é uma antecipação da
nossa vocação em Cristo. Desde sempre, Deus já pensava em conceder-nos a sua
graça, chamando-nos a fé e a santidade cristã.
7. O caminho de fé que fazemos
requer também da nossa parte confiança e mudanças ao longo do nosso peregrinar,
a exemplo de Jesus. Se Ele não tivesse percorrido o caminho antes,
parecer-nos-ia impossível.
8. A liturgia quaresmal desse
domingo convida-nos a percorrer esse caminho que nos levará ao mistério da
ressurreição final. Jesus é o nosso companheiro nessa estrada. Com ele somos
capazes de superar a prova da fé que sempre nos surpreende com a escuridão e a
dúvida, o temor e o cansaço.
9. Como aos discípulos, o Senhor
nos convida a levantar e não temer. Que não percamos de vista o horizonte
Pascal.
Pe. João Bosco Vieira Leite