2º Domingo da Quaresma - Ano A

(Gn 12,1-4a; Sl 32[33]; 2Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9)

1. A narrativa da transfiguração do Senhor foi interpretada pelos evangelistas e pelos apóstolos à luz da ressurreição. Talvez por isso tenhamos essa recomendação final no texto do evangelho. 

2. Para situar-nos no contexto da narrativa, recordemos que o anúncio da paixão, morte e ressurreição precede o acontecimento. Surpresa e depressão acompanham a reação dos apóstolos. Chocava suas esperanças e a do povo judeu. 

3. Assim, entendemos que Jesus se transfigura e antecipa a sua glória de ressuscitado em função dos discípulos. Temos aqui uma teofania, ao modelo das narrativas do Antigo Testamento. O ponto alto é a voz do Pai que proclama a identidade de Jesus. 

4. Objetivamente o nosso relato está voltado para o mistério da ressurreição. Mas a chegada a esse ponto depende de uma resposta ao chamado de Deus. Uma fé que se coloca a caminho, como faz Jesus.

5. É nesse contexto do chamado que ouvimos a primeira leitura, Abraão, é apresentado como modelo de disponibilidade e perfeita obediência a Deus. Deus está retomando a unidade perdida em Babel, originando, a partir de Abraão, o seu povo, Israel. 

6. É a compreensão desse mistério que Paulo partilha na segunda leitura. A vocação de Abraão é uma antecipação da nossa vocação em Cristo. Desde sempre, Deus já pensava em conceder-nos a sua graça, chamando-nos a fé e a santidade cristã. 

7. O caminho de fé que fazemos requer também da nossa parte confiança e mudanças ao longo do nosso peregrinar, a exemplo de Jesus. Se Ele não tivesse percorrido o caminho antes, parecer-nos-ia impossível. 

8. A liturgia quaresmal desse domingo convida-nos a percorrer esse caminho que nos levará ao mistério da ressurreição final. Jesus é o nosso companheiro nessa estrada. Com ele somos capazes de superar a prova da fé que sempre nos surpreende com a escuridão e a dúvida, o temor e o cansaço.

9. Como aos discípulos, o Senhor nos convida a levantar e não temer. Que não percamos de vista o horizonte Pascal.

Pe. João Bosco Vieira Leite