(Gn 2,7-9; 3,1-7; Sl 50[51]; Rm 5,12-19; Mt 4,1-11)
1. Não é preciso um grande esforço para
perceber a linha de reflexão em que somos conduzidos na liturgia da Palavra
desse domingo. Partimos da imagem do jardim do Gênesis com a transgressão de
Adão e Eva, para situar-nos no deserto com Jesus sendo tentado e vencendo o
tentador.
2. Paulo estabelece para nós uma
reflexão teológica que liga as duas extremidades. Entendemos que Jesus é o novo
Adão que repara a desobediência do primeiro no paraíso. Um texto bastante
otimista que nos mostra como a graça de Deus nos alcança por Jesus Cristo,
mesmo comungando da realidade de pecado humano.
3. Tendo já iniciado a nossa caminhada
quaresmal, entramos com Jesus nesse deserto onde a Palavra de Deus deve nos
guiar, se quisermos sair vencedores. Assim como foi para Jesus, a vida é também
para nós prova e tentação, onde a nossa fidelidade a Deus é testada.
4. Esse texto da tentação de Jesus que
bem conhecemos, é uma construção Bíblico-teológica que diz respeito muito mais
a uma realidade interna vivida por Jesus, onde também nos encontramos. O cinema
bem compreendeu essa realidade ao traduzi-la para as telas.
5. Na ambiguidade do simbolismo do
deserto, onde Israel viveu profunda relação com Deus, mas também a tentação, a
rebeldia e o pecado, podemos também nos encontrar nas tentações mais frequentes
do nosso viver.
6. Temos no simbolismo do pão o consumo
desmedido que não só nos faz esquecer de Deus e dos valores do Reino, mas
também das outras pessoas e do próprio planeta. Entre o ser e o ter está o
equilíbrio para as nossas relações com Deus e com o próximo.
7. Vivemos o constante risco de tornar
a nossa relação com Deus algo mercantilista, onde manipulamos e domesticamos a
Deus, vivendo uma espécie de religião mágica e supersticiosa. A fé não é um seguro
de vida contra todos os riscos, mas uma resposta sem limites ao amor de Deus.
8. O mundo cada vez mais se apresenta
descrente, num ateísmo militante ou mesmo num agnosticismo indiferente, mas que
contraditoriamente constrói os seus ídolos, num culto a si mesmo ou a figuras
tão frágeis e passageiras como ele mesmo.
9. De fato, ao se encarnar no meio
dessas realidades, Cristo veio reafirmar a dignidade e grandeza do ser humano,
objeto do amor de Deus Pai; ao mesmo tempo chama a atenção para tudo aquilo que
avilta e desumaniza a pessoa humana.
10. “Pedimos-te, Senhor,
resistência para superar as tentações que nos rondam constantemente na passagem
dos dias. Livra-nos, sobretudo, dos ídolos que querem avassalar-nos, apagando a
Tua imagem do horizonte da nossa vida, e faz com que avancemos sem cessar no
caminho que leva à Páscoa. Amém” (B. Caballero – “A Palavra de cada
Domingo”).
Pe. João Bosco Vieira Leite