(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14)
Oitava de Páscoa.
“Jesus disse-lhes:
‘Lançai a rede à direita da barca e achareis’. Lançaram, pois, a rede e não conseguiram
puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes” Jo 21,6.
“O capítulo 21 é
considerado um apêndice. Mas em seu todo ele é inseparável do evangelho de
João, pois retoma temas importantes e leva à conclusão. A introdução já faz
referência aos acontecimentos narrados anteriormente. Depois da ressurreição,
Jesus se manifestou uma terceira vez aos discípulos. Essa terceira vez tem
conotação simbólica. Todas as áreas de atuação do ser humano são transformadas
pela Ressurreição. A Ressurreição é consumação do amor (Maria de Magdala) e da
fé (Tomás), e a Ressurreição é a transformação do nosso dia a dia. Essa
afirmação se confirma na cena da pescaria matutina. Os discípulos estão
envolvidos em seus afazeres diários, estão pescando. Mas o seu trabalho é
infrutífero. É a noite da frustração, uma situação que todos nós conhecemos.
Tudo é em vão. Todo o nosso esforço resulta em nada. Estamos decepcionados,
acabrunhados. Sete foram os discípulos que saíram para pescar. Eles são a
imagem da comunidade da Igreja. A cooperação não funciona. Os resultados não
aparecem. Nessa noite da frustração entra Jesus vindo da margem. O ressuscitado
entra no nosso mundo diário vindo do mundo divino. E quando ele chega, a manhã
cinzenta se transforma: a noite da frustração muda de aspecto. O ressuscitado
se dirige aos discípulos perguntando pelo alimento deles: ‘Moços, não tendes um
pouco de peixe?’ (21,5). Jesus chama carinhosamente de moços. Até certo ponto
são até crianças em seu entendimento, pois continuam não compreendendo quem é esse
Jesus. [...] Jesus pergunta aos discípulos por aquilo que os nutre realmente,
que lhes dá a vida de verdade. E eles precisam admitir que não têm nada, que
suas mãos estão vazias. Jesus lhes mostra, então, como sua vida pode ser bem
sucedida. Ele os manda lançar a rede do lado direito do barco. Jesus não exige
nada de especial. Devem fazer aquilo que sempre fizeram: lançar a sua rede. Só
que devem fazê-lo a mando de Jesus, e do lado direito, que é o lado consciente.
Eles precisam ouvir a palavras de Jesus e executar consciente e atentamente os
seus afazeres diários. Assim virão. Nos sonhos, pescar significa simbolicamente
vasculhar suas próprias profundezas, no seu mundo interior. Os discípulos não
devem escarafunchar sem atenção nas profundezas de sua consciência. É preciso
aguardar a palavra de Jesus. É esta palavra que os guia para o fundo do seu mar
interno, para o fundo de sua alma” (Anselm Grun – Jesus:
porta para a vida – Loyola).
Pe. João Bosco Viera Leite