(At 4,23-31; Sl 2; Jo 3,1-8)
2ª Semana da Páscoa.
“Havia um chefe
judaico, membro do grupo dos fariseus, chamado Nicodemos” Jo 3,1.
“Nicodemos é um judeu
religioso preocupado com a questão da salvação. O que fazer para que a vida
humana seja bem sucedida, salva e completa não é apenas uma inquietação
tipicamente grega. No fundo trata-se de uma questão que comove todo ser humano
em qualquer época. Nicodemos procurou Jesus de noite. Em João, as horas estão
sempre cheias de simbolismo. A noite representa a escuridão e as trevas
interiores, o obscurecimento da mente. Atormentado pela absurdidade, Nicodemos
vai a Jesus para encontrar uma resposta para as suas perguntas existenciais.
Mas ele esconde a sua pergunta atrás da constatação de que Jesus certamente vem
da parte de Deus. Nicodemos sente que há nesse homem algo que o distingue dos
demais mestres que falam de Deus, mas não são de Deus. Jesus percebe o que o
autor da pergunta está querendo saber realmente. E antes de Nicodemos formular
a sua pergunta, Jesus expressa uma proposição que vai ao âmago do verdadeiro
problema do interlocutor: ‘A menos que nasça de novo (ou, do alto= ‘anothen’),
ninguém pode ver o Reino de Deus’ (3,3). Certamente, o duplo sentido da
expressão foi escolhido de propósito. Só quem nasce do alto, de Deus, pode ver
o Reino de Deus e salva sua vida. Ele é arrancado do mundo das aparências. O
mundo não tem poder sobre ele com suas demandas e expectativas. Mas não se
trata apenas da origem dupla do ser humano, nascimento ao mesmo tempo da terra
e de Deus. Aqui está sendo abordado também o tema do nascimento. [...] Hoje em
dia, quando houve falar do renascimento, muita gente pensa logo em
reencarnação, ou seja, numa nova encarnação depois da morte. Mas não é nisto
que se pensa aqui. Para João trata-se da essência do ser humano. E esta é
determinada por sua origem. A verdadeira essência do ser humano é ter nascido
de Deus. Mas, isso não quer dizer apenas que o homem é criado por Deus. Quem
nasceu da carne é alienado segundo a sua verdadeira natureza. Ele não se entende
a si próprio. Vive por viver. Bultmann entende o renascimento do espírito como
um ‘modo de ser que o homem está dentro da sua própria autenticidade,
compreendendo-se, sem sentir-se acuado pela nulidade’ (Bultmann, 1950, p. 100)”. (Anselm Grun
– Jesus: porta para a vida – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite