(Is 43,16-21; Sl 125[126]; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11).
1. Ao celebrarmos o rosto
misericordioso de Deus que Lucas nos revelava na parábola do domingo anterior,
vemos esta se iluminar pela ação misericordiosa de Jesus para com a pecadora
pública.
2. Para ilustrar essa ação restauradora
de Deus, a primeira leitura faz o profeta anunciar aos exilados da Babilônia,
que um dia foram salvos das águas na travessia do mar vermelho, que Deus vai
trazê-los de volta pelos caminhos do deserto numa nova ação libertadora e
restauradora.
3. Assim podemos contemplar no encontro
de Jesus com a mulher surpreendida em adultério, a misericórdia que é capaz de
restaurar vidas e fazê-las avançar em outra direção.
4. É na direção de Cristo, de um
conhecimento ou comunhão maior que se lança Paulo, que um dia foi alcançado por
Ele. Paulo descobre que não é o ‘acúmulo’ de méritos que nos salva, mas o amor
com que decidimos dar uma outra direção ao nosso caminhar na vida e na
fé.
5. É esse choque entre o legalismo e a
misericórdia divina que entram em cena no evangelho de hoje. Jesus não nega o
valor da Lei, apenas indica que existe um outro caminho quando se compreende
que Deus objetivamente não condena, mas sempre deseja salvar.
6. Estamos nos dias finais da vida de
Jesus e seus adversários o obrigam a tomar uma decisão em nome da Lei, mas
Jesus não vai mudar a sua posição, a sua compreensão de Deus, mesmo que isso
signifique aumentar o ódio daqueles que já decidiram mata-lo.
7. As palavras de Jesus: ‘Quem não
tiver pecado...’, abre uma fenda de reflexão no coração dos seus ouvintes. Como
conseguimos ser tão duros com os outros e não enxergamos a nós mesmos. Se Deus
nos medisse como medimos os outros...
8. O ser humano sabe que por si mesmo,
só com suas forças, é incapaz de curar-se. Se olha para Deus como um mero juiz,
a coisa fica mais complicada ainda, pois nem mesmo a Lei divina conseguimos
observar de modo perfeito.
9. O próprio autor do evangelho, nas
suas cartas vai refletir sobre a dimensão do amor divino, da gratuidade de Deus
que chega até nós em Cristo Jesus. Ele é mão que Deus estende aos pecadores
para os reconduzir em seu amor e torná-los capazes de amar.
10. Paulo já compreendia, por
experiência amadurecida em seu caminhar, o significado de ter sido encontrado
por Jesus, como esse amor foi capaz de transformar seu coração e sentir-se, por
isso, atraído ao coração do próprio Jesus, levando-o a escrever o hino sobre a
caridade.
11. Experimentar a força da
ressurreição de Jesus, em nosso caminho para a Páscoa, passa por esse
colocar-nos humildemente na esteira dos pecadores, pois só quem se humilha será
exaltado, e como canta a Virgem: ‘Ele olhou para a humildade de sua
serva. Doravante as gerações me chamarão de bem-aventurada’.
Pe. João Bosco Vieira Leite