(Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116B]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15)
1. A 1ª leitura nos apresentou a
descrição da celebração da Páscoa praticada por Israel, ao centro dessa ceia
celebrativa encontra-se o cordeiro como símbolo da libertação da escravidão do
Egito. Toda a liturgia era acompanhada de uma narrativa, um memorial da ação de
Deus a favor do seu povo.
2. O importante era não esquecer que
Deus tinha assumido pessoalmente a história do seu povo, e que esta história
estava continuamente fundamentada na comunhão com Deus. Israel não devia
esquecer-se de Deus.
3. O nosso salmo reflete as palavras de
agradecimento que inspiravam o louvor e as orações feitas por Israel, mas havia
sempre a súplica para que Deus completasse a libertação começada, pois sabemos
que Israel viveu contínuas tensões com os povos vizinhos, maiores e poderosos.
4. Os evangelistas sinóticos (Mt, Mc e
Lc) nos dão a entender que Jesus celebrou esta ceia com os seus discípulos
antes de sofrer a paixão, e nesse contexto inaugurou a nova Páscoa,
entregando-nos a Eucaristia.
5. Mas segundo João, autor do evangelho
que escutamos nessa noite, Jesus morreu precisamente no momento em que os
cordeiros eram imolados no Templo. Assim ele teria morrido na vigília pascal,
não tendo celebrado tal ceia. Tanto é verdade que nas narrativas da Ceia não
aparecem os elementos da páscoa judaica.
6. A celebração que fazemos memória
ocorreu um dia antes, sem o cordeiro tradicional, pois em seu lugar, Jesus
entregou-se a Si mesmo, no seu Corpo e no seu Sangue. Assim, antecipou a sua
morte de modo coerente com o que havia antes: “Ninguém me tira a vida; sou eu
que a dou por mim mesmo” (Jo 10,18).
7. Convergem para o gesto de Cristo as
palavras de João Batista, que apresentam Jesus como ‘O Cordeiro de Deus, que
vai tirar o pecado do mundo’. Pois um animal não poderia purificar o homem, nem
salvá-lo da morte.
8. Ao mesmo tempo Jesus é o Templo de
Deus, o templo vivo onde Deus tem sua morada e onde podemos encontrar Deus e
adorá-lo. O seu amor, o amor no qual se entrega livremente por nós, é que nos
salva.
9. A cruz será o altar da imolação, do
dom oferecido. É dela que nos vem o dom. assim a nossa refeição é uma memória
que não recorda simplesmente o passado, mas atrai-nos à presença do amor de
Cristo, para o hoje da nossa existência.
10. Que o Senhor nos ajude a
compreender cada vez mais este mistério, para que O amemos sempre mais e por
esse sacramento nos atraia cada vez mais para junto de Si; e para aprendermos a
nos oferecermos com Ele também faz o gesto que nos deixa atônitos, lembrando
que a nossa existência encontra sentido no serviço que prestamos ao próximo na
multiforme expressão das vocações.
Pe. João Bosco Vieira Leite