(Jr 11,18-20; Sl 7; Jo 7,40-53)
4ª Semana da Quaresma.
“Então, os fariseus
disseram-lhes: ‘Também vós vos deixastes enganar? Por acaso algum dos chefes ou
dos fariseus acreditou nele? Mas essa gente que não conhece a lei é maldita! ’” Jo 7,47-49.
“Não devemos nos
enganar a respeito dessa espécie de paixão que se apodera de Jesus quando ele é
arrastado nesse debate dramático. Suas palavras, seus gestos, suas imprecações
nos parecem violentas, agressivas, provocantes. É que ele encontrou como os
profetas, no seio mesmo do povo de Deus, pior do que o abandono, a corrupção da
lei. Sua indignação é a expressão do seu amor violento da santidade de Deus. Se
Jesus se opõe aos fariseus com tanta violência, não é para os condenar, é para
os salvar do farisaísmo, que perverte os seus valores, e se o Evangelho nos
relata esses combates, é para nos purificar dele, porque o farisaísmo nos
ameaça sempre. O que nos importa ver nele, é o profeta que não ameaça senão
para salvar. O farisaísmo é uma atitude global da pessoa. Ele atinge a
totalidade da moral e da religião, as relações com Deus e com os outros. Não é
um defeito particular, é um vício oculto que corrompe todas as virtudes.
Radicalmente, é a intenção profunda que é falseada. O fariseu se fia em sua
própria justiça. Sua observância material da lei é para ele uma garantia de
salvação, merecida por sua própria virtude: ‘Jejuo duas vezes por semana, dou o
dízimo de todos os meus bens’. Ele se justifica a si mesmo. E aí é que está, no
centro de tudo, a perversão do seu vínculo com Deus. Ele não reconhece Deus
como aquele que é o único a salvar, a santificar. Sua justiça é sua própria
justiça, não a de Deus. Este o pecado mais fundamental. Tal suficiência diante
de Deus, em nome das suas obras, termina em desprezo dos outros. O fariseu
assegura o seu próprio prestígio diante de si mesmo e dos outros por sua exata
observância da lei. O importante se torna o efeito produzido, o olhar e a
admiração dos outros. ‘Em tudo eles agem para se fazer notar pelos homens’.
Isto é a preservação suprema da lei, feita para tornar-se expressão do amor.
Perversão do próprio homem, feito para a glória de Deus, e que se deforma em
sua própria glorificação. O debate é fundamental e, por isto, decisivo. Não há
conciliação possível entre o Cristo e o fariseu, como não há entre Deus e
Manon. É uma dimensão do Evangelho que S. Paulo explorará na Carta aos romanos,
manifestando que a fé em Cristo é sempre conversão, em nós, do pagão e do
fariseu. É que está em jogo o Evangelho mesmo, a autenticidade da relação nova
do homem com Deus em Jesus Cristo. Mais ainda, está em jogo a manifestação
divina do verdadeiro Deus, Deus do Amor, Pai das misericórdias em seu Filho,
Salvador do mundo” (L. Lochet – L’Évangile de l liberte – Editora Beneditina
Ltada.).
Pe. João Bosco Vieira Leite