Sábado, 6 de abril de 2019


(Jr 11,18-20; Sl 7; Jo 7,40-53) 
4ª Semana da Quaresma.

“Então, os fariseus disseram-lhes: ‘Também vós vos deixastes enganar? Por acaso algum dos chefes ou dos fariseus acreditou nele? Mas essa gente que não conhece a lei é maldita! ’” Jo 7,47-49.

“Não devemos nos enganar a respeito dessa espécie de paixão que se apodera de Jesus quando ele é arrastado nesse debate dramático. Suas palavras, seus gestos, suas imprecações nos parecem violentas, agressivas, provocantes. É que ele encontrou como os profetas, no seio mesmo do povo de Deus, pior do que o abandono, a corrupção da lei. Sua indignação é a expressão do seu amor violento da santidade de Deus. Se Jesus se opõe aos fariseus com tanta violência, não é para os condenar, é para os salvar do farisaísmo, que perverte os seus valores, e se o Evangelho nos relata esses combates, é para nos purificar dele, porque o farisaísmo nos ameaça sempre. O que nos importa ver nele, é o profeta que não ameaça senão para salvar. O farisaísmo é uma atitude global da pessoa. Ele atinge a totalidade da moral e da religião, as relações com Deus e com os outros. Não é um defeito particular, é um vício oculto que corrompe todas as virtudes. Radicalmente, é a intenção profunda que é falseada. O fariseu se fia em sua própria justiça. Sua observância material da lei é para ele uma garantia de salvação, merecida por sua própria virtude: ‘Jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de todos os meus bens’. Ele se justifica a si mesmo. E aí é que está, no centro de tudo, a perversão do seu vínculo com Deus. Ele não reconhece Deus como aquele que é o único a salvar, a santificar. Sua justiça é sua própria justiça, não a de Deus. Este o pecado mais fundamental. Tal suficiência diante de Deus, em nome das suas obras, termina em desprezo dos outros. O fariseu assegura o seu próprio prestígio diante de si mesmo e dos outros por sua exata observância da lei. O importante se torna o efeito produzido, o olhar e a admiração dos outros. ‘Em tudo eles agem para se fazer notar pelos homens’. Isto é a preservação suprema da lei, feita para tornar-se expressão do amor. Perversão do próprio homem, feito para a glória de Deus, e que se deforma em sua própria glorificação. O debate é fundamental e, por isto, decisivo. Não há conciliação possível entre o Cristo e o fariseu, como não há entre Deus e Manon. É uma dimensão do Evangelho que S. Paulo explorará na Carta aos romanos, manifestando que a fé em Cristo é sempre conversão, em nós, do pagão e do fariseu. É que está em jogo o Evangelho mesmo, a autenticidade da relação nova do homem com Deus em Jesus Cristo. Mais ainda, está em jogo a manifestação divina do verdadeiro Deus, Deus do Amor, Pai das misericórdias em seu Filho, Salvador do mundo” (L. Lochet – L’Évangile de l liberte – Editora Beneditina Ltada.).         

Pe. João Bosco Vieira Leite