Corpo e Sangue de Cristo – Ano C
(Gn 14,18-20; Sl 109[110];
1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17)
1. A meditação sobre a Eucaristia neste
ano aponta para o gesto de partilha. Assim, a figura de Melquisedec, no Antigo
Testamento ganha relevo em seu gesto para com Abraão. Este sacerdote, que não
era Judeu, partilha seu pão e vinho com o patriarca de Israel. Além da figura
do sacerdote brota do texto essa comunhão dos diferentes em torno desse gesto.
2. A realidade da Eucaristia nos lembra
que dela verdadeiramente comunga quem aprendeu o gesto da partilha e da unidade
dos diferentes. A fé nos educa para a verdadeira comunhão.
3. O texto de Paulo que a liturgia nos
traz é o mais antigo escrito sobre a narrativa da Ceia, mas a recordação de
Paulo desse gesto de Cristo, tem por traz sérias divisões dentro da comunidade.
Uma delas dizia respeito a uma refeição que antecedia o memorial da Eucaristia.
Quem muito tinha se fartava despreocupados dos menos afortunados.
4. Um gesto diz mais que mil palavras:
o gesto de Jesus na ceia não só antecipava a sua entrega na cruz, mas traduzia
toda a sua vida doada. Se a cada Eucaristia Sua presença é mais sentida, não
menos Sua atitude de entrega num memorial que se multiplica em nossa vida lá
fora.
5. Adorar alguém ou alguma coisa, sem
fanatismo, significa identificar-se com a pessoa ou objeto amado: “Amar como
Jesus amou, pensar como Jesus pensou...”. Jesus lembra a samaritana que os
verdadeiros adoradores de Deus o adorarão em espírito e verdade. Assim, no
exercício de viver a fé, lutemos por eliminar tudo que for oposto ao gesto de
partilha, de unidade e de entrega de Jesus.
6. Os dois textos já nos prepararam
para o evangelho. A multiplicação dos pães sempre foi um texto que remete a
instituição da Eucaristia e Lucas não difere dos outros ao fazer certas
referências. Há uma palavra que antecede o gesto de Jesus, como nas nossas
comunidades. Ela também alimenta, cura, liberta, anima para o caminhar que, às
vezes, se assemelha a um deserto.
7. Encontrar-se com sua Palavra e com
Seu pão que sustenta a vida, foi necessário desinstalar-nos por um momento,
deixar para encontrar. Interpelado pelos discípulos, Jesus os interpela
convidando-os a entender que é possível fazer algo pelo outro quando nos
dispomos, confiando em Deus, a colocar em comum o que temos e somos para o bem
de todos.
8. Pode parecer pouco, mas um gesto
pode inspirar outro. O egoísmo não produz fruto algum. Chama-nos a atenção da
divisão em pequenos grupos para a partilha. Realmente, comunidades grandes
demais criam o anonimato e geram mais dificuldade na comunicação.
9. Na narrativa do gesto e palavras de
Jesus, Lucas entrega a sua clara inspiração na celebração eucarística das
comunidades. Para ele, e também deveria ser para nós, a nossa celebração não
pode estar dissociada da realidade do dia a dia, da vida também partilhada e
entregue pela causa do outro.
10. Pão da Palavra, Pão da Eucaristia,
duas mesas que se comunicam e nos comunicam a luz e a força divina que nos faz
seguir caminho afora conscientes de que nunca está sozinho quem se propôs a
caminhar com Deus.
Pe. João Bosco Vieira Leite