Quinta, 26 de maio de 2016

 Corpo e Sangue de Cristo – Ano C 
(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17)

1. A meditação sobre a Eucaristia neste ano aponta para o gesto de partilha. Assim, a figura de Melquisedec, no Antigo Testamento ganha relevo em seu gesto para com Abraão. Este sacerdote, que não era Judeu, partilha seu pão e vinho com o patriarca de Israel. Além da figura do sacerdote brota do texto essa comunhão dos diferentes em torno desse gesto.

2. A realidade da Eucaristia nos lembra que dela verdadeiramente comunga quem aprendeu o gesto da partilha e da unidade dos diferentes. A fé nos educa para a verdadeira comunhão.

3. O texto de Paulo que a liturgia nos traz é o mais antigo escrito sobre a narrativa da Ceia, mas a recordação de Paulo desse gesto de Cristo, tem por traz sérias divisões dentro da comunidade. Uma delas dizia respeito a uma refeição que antecedia o memorial da Eucaristia. Quem muito tinha se fartava despreocupados dos menos afortunados.

4. Um gesto diz mais que mil palavras: o gesto de Jesus na ceia não só antecipava a sua entrega na cruz, mas traduzia toda a sua vida doada. Se a cada Eucaristia Sua presença é mais sentida, não menos Sua atitude de entrega num memorial que se multiplica em nossa vida lá fora.

5. Adorar alguém ou alguma coisa, sem fanatismo, significa identificar-se com a pessoa ou objeto amado: “Amar como Jesus amou, pensar como Jesus pensou...”. Jesus lembra a samaritana que os verdadeiros adoradores de Deus o adorarão em espírito e verdade. Assim, no exercício de viver a fé, lutemos por eliminar tudo que for oposto ao gesto de partilha, de unidade e de entrega de Jesus.

6. Os dois textos já nos prepararam para o evangelho. A multiplicação dos pães sempre foi um texto que remete a instituição da Eucaristia e Lucas não difere dos outros ao fazer certas referências. Há uma palavra que antecede o gesto de Jesus, como nas nossas comunidades. Ela também alimenta, cura, liberta, anima para o caminhar que, às vezes, se assemelha a um deserto. 

7. Encontrar-se com sua Palavra e com Seu pão que sustenta a vida, foi necessário desinstalar-nos por um momento, deixar para encontrar. Interpelado pelos discípulos, Jesus os interpela convidando-os a entender que é possível fazer algo pelo outro quando nos dispomos, confiando em Deus, a colocar em comum o que temos e somos para o bem de todos.

8. Pode parecer pouco, mas um gesto pode inspirar outro. O egoísmo não produz fruto algum. Chama-nos a atenção da divisão em pequenos grupos para a partilha. Realmente, comunidades grandes demais criam o anonimato e geram mais dificuldade na comunicação.

9. Na narrativa do gesto e palavras de Jesus, Lucas entrega a sua clara inspiração na celebração eucarística das comunidades. Para ele, e também deveria ser para nós, a nossa celebração não pode estar dissociada da realidade do dia a dia, da vida também partilhada e entregue pela causa do outro.


10. Pão da Palavra, Pão da Eucaristia, duas mesas que se comunicam e nos comunicam a luz e a força divina que nos faz seguir caminho afora conscientes de que nunca está sozinho quem se propôs a caminhar com Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite