Ascensão do Senhor – Ano C

(At 1,1-11; Ef 1,17-23; Lc 24,46-53).

1. Todos os anos se reptem as leituras para a festa da Ascensão, mudando somente o evangelho. Assim temos dois textos de Lucas: a 1ª leitura e o evangelho. Os dois textos trazem diferenças significativas sobre o mesmo fato. Há mais gritante é a respeito do quando: o evangelho situa o fato no mesmo dia da páscoa, enquanto os Atos falam de 40 dias depois.

2. É provável que em sua narrativa ele esteja tentando responder às dúvidas surgidas na comunidade a qual se dirige. Sem dúvida, sua narrativa é influenciada pelo Antigo Testamento e carregada de simbolismo. Lucas convida a deixar de lado a pergunta sobre o quando o Reino se estabelecerá, quando será o fim, para preocupar-se com o testemunho a ser dado.

3. O modo como Jesus se eleva e desaparece faz referência ao profeta Elias (2Rs 2,9-15), no modo como foi ‘levado’ por Deus e continuava sendo esperado. Permanece uma ‘aura’ de mistério sobre o como exatamente, Cristo deixou de aparecer aos seus discípulos; o que fica claro é que o olhar deles deve estar voltado para as realidades que os cercam.

4. Mas que um evento, estamos celebrando uma tomada de consciência, após a ressurreição, do verdadeiro papel da Igreja no mundo através dos seus membros. No bojo do mistério pascal, celebramos uma nova presença de Cristo no coração dos seus irmãos e irmãs pela presença do Espírito santo, enquanto esperamos a sua volta.

5. Esse retorno de Cristo é também uma tomada de consciência, lembra Paulo na 2ª leitura de como vivermos nesse mundo em meio a todas as preocupações que nos cercam. Somos cidadãos do céu. Deus nos espera, depois de nossas lidas terrenas, pois em Cristo fomos chamados a uma plenitude de vida que desafia a nossa simples visão das coisas comuns.

6. O evangelho de Lucas finaliza como começou: um convite a alegrar-nos. Sua vinda entre nós marcou novo tempo, nova etapa na história da salvação. Sua partida também inaugura um novo modo de estar entre nós, não mais limitado ao espaço e ao tempo e também marcado por sua vitória sobre as realidades impossíveis da vida, tendo a morte como primeiro elemento a ser superado. Não é para menos a alegria dos discípulos. 

7. A vida aqui na terra seguiu seu curso com todas as suas facetas. O que mudou foi o modo de ver a vida. Sua palavra, se renova a nossa vida, renova nossas relações com o mundo e as coisas que nos cercam. A sua ressurreição não só nos tirou o medo da morte, mas nos ensinou a lutar e esperar em meios as situações adversas da vida.

8. Jesus reafirma que nos fortalecerá com a força do alto, o seu Espírito trará renovada compreensão de suas palavras que têm a força de transformar nosso modo de pensar. Essa é a chave de leitura para a compreensão dessa alegria na despedida de Jesus. E nós somos convidados a nos envolver nessa mesma alegria e certeza do caminho.


Pe. João Bosco Vieira Leite