9º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(1Rs 8,41-43; Sl 116 [117]; Gl 1,1-2.6-10; Lc 7,1-10)

1. Não seria precipitado dizer que uma linha de reflexão que toma a Liturgia da Palavra vai de encontro ao tema da descriminação, do preconceito.
* No Antigo Testamento, várias passagens falam da proibição de se ‘entreter’ com o pagão, com aquele que não era da raça eleita. Além da impureza trazida por este, uma palavra poderia desvirtuar da fé.

2. Mas a liturgia insere esse texto de Salomão e da sua oração quando da ‘inauguração’ (consagração) do Templo de Jerusalém.
* Ele insere na sua prece a possibilidade de um estrangeiro dirigir-se a Deus naquele local. A fé despertada em seu coração deveria ser ‘premiada’ ao menos com a escuta da parte de Deus.

3. Em sua limitada compreensão, Salomão não tinha ideia de quem é Deus. É dos lábios de Jesus que brotará a confirmação que Deus ama a todos, independente da raça, religião ou cultura.
* Quando nos abrimos a compreensão do universalismo do pensamento de Jesus, podemos perceber a riqueza escondida no outro, que não faz parte do meu grupo, e que também crê, até mais do que eu.

4. Acompanharemos alguns trechos da carta aos Gálatas por esses domingos. A Galícia está situada na Ásia Menor; esse povo foi evangelizado por Paulo, que fundou várias comunidades.
* Depois por ali passaram alguns cristãos de Jerusalém, presos a certas tradições, que confundiram a cabeça dessa gente. A reação de Paulo é enérgica, pelo risco de confundirem a fé em Jesus com tradições humanas.

5. Não só a Paulo, mas também nos assusta o número de cristãos católicos que se deixam levar por essa gama de novos anunciadores do evangelho que, a nosso entender, desvirtuam a compressão do evangelho.
* alguns enveredam por um caminho de radicalismo que não tinham antes, outros aderem a um evangelho ‘light’ profundamente marcado pela psicologia moderna.
* O risco é aderir a um comportamento meramente externo que nos rouba a alegria, a paz e a liberdade comunicada por Cristo na consciência do que significa a nossa filiação divina.

6. O episódio narrado por Lucas tem sua versão em Mateus (8,5-10) e João (4,46-54). São narrativas diferentes em termos de detalhes, mas que convergem para uma única mensagem.
* Essa prática comum aos evangelhos objetiva chegar aos seus leitores numa linguagem compreensível. Assim temos sempre que levar em conta a quem ele escreve e o que objetiva com sua narrativa.

7. Se a convivência entre os judeus e os estrangeiros nunca foi fácil, imaginem dentro de um cristianismo que se apresenta aberto a todos os povos e culturas. A convivência nunca foi fácil.
* Longe de usar argumentos mais elaborados de convencimento, Lucas, ele mesmo estrangeiro, prefere mostrar qual a atitude de Jesus diante dessa realidade.

8. Na sua narrativa diferenciada, Lucas insere elementos que ajudem aos seus leitores na superação das desconfianças recíprocas.
* Reconhece-se que o centurião mesmo nãos sendo judeu, é um bom homem. Certamente mediou conflitos e ajudou em algumas necessidades do povo perante Herodes Antipas.

9. Destaca-se a sua humildade em buscar ajuda na influência dos anciãos judaicos. No seu recado a Jesus, parece respeitar os costumes judaicos, de não entrar em casa de estrangeiro.
* Sua comparação entre o seu agir e o de Jesus é uma grande demonstração de fé e merece um elogio da parte de Jesus. Seu modo de acolher demonstra maior abertura que os judeus. 

10. Lucas é universalista em seu pensamento e que lançar o olhar da comunidade um pouco além. Percebam que aqueles que não pertencem a comunidade cristã ou mesmo nem tenham fé, não são pessoas más.
* Também eles podem realizar obras que procedem de Deus. A atitude de Jesus em ir à casa do centurião demonstra que ele não tem medo de ‘contaminar-se’. Deus não olha essas separações que criamos.

11. Quem observou a narrativa de Lucas mais atentamente, já percebeu os elogios indiretos ao estrangeiro, o marginalizado, ao que é desprezado, desconsiderado.
* É como se nos perguntasse a respeito do nosso posicionamento em relação aos outros, aos que não são cristãos ou simplesmente diferem de nós.

12. Lucas lembra também a força da palavra de Jesus, que pronunciada à distância foi capaz de curar. Celebrando nesses dias a sua ascensão, lembremos que de onde ele estiver, sua palavra tem força de fazer acontecer.
* Celebrando seu memorial, somos recordados das barreiras a serem vencidas entre nós e que nos permitem um intercâmbio enriquecedor de solidariedade, de colaboração recíproca, nos ensina a Palavra.


Pe. João Bosco Vieira Leite