Todos os Fiéis defuntos

(Sb 3,1-9; Sl 41[42]; Ap 21,1-7; Lc 7,11-17)*

1. A dra. Elisabeth Kübler-Ross publicou os resultados de entrevistas com seus pacientes às portas da morte. Foi um laborioso trabalho de pesquisa ao longo de dez anos. Em artigo do semanário People, lhe foi indagado se o fato de ela crer na vida depois da morte havia mudado o seu modo de pensar. A resposta textual foi:

2. “Se devesse perder esta casa com tudo aquilo que há dentro, não me importaria nada. Sendo obrigada, por razões profissionais, a estar ao lado de doentes em fase de agonia, aprendi que ver um crepúsculo ou observar uma família de faisões em um prado é infinitamente mais importante. Após haver escutado dos moribundos: ‘Se ao menos houvesse conhecido melhor os meus filhos. Se ao menos...’, então se começa a refletir sobre a própria vida e sobre a melhor maneira de viver o que resta”

3. Quando nos colocamos diante de algo futuro, que implica a nossa responsabilidade, duas podem ser as nossas reações. Somos tomados pelo medo se a nossa consciência nos acusa de relaxamento ou omissão na preparação do que deve acontecer.

4. Por isso, a advertência ao estudante sobre os exames finais equivale ao termo: cuidado! Dramatiza-se um resultado negativo. Mas se existe um trabalho no sentido de preparar o acontecimento, este virá a coroar a atitude da esperança. A advertência adquire um sentido de: coragem! Antecipa-se a alegria pelo sucesso a ser obtido em razão do esforço despendido.

5. No 19º Domingo do Tempo Comum, refletíamos sobre a figura do patrão que volta da viagem, e entre outras coisas, Jesus afirmava a certeza do acontecimento da morte (Lc 12,35-40). A única surpresa está reservada quanto ao tempo.

6. Ao insistir que estejamos vigilantes, Jesus não quer que fiquemos paralisados pela espera, com os pensamentos fixos em uma sepultura, imersos em uma inércia fúnebre. Seria antecipar a morte anulando a vida presente.

7.  O manter-se alerta é o mesmo que ter a consciência tranquila de estar em atividade, fazendo o possível. É este o significado bíblico das roupas em ordem e das lamparinas acesas. A morte não se improvisa, dela se faz merecedora a nossa vida toda.

8. Só saberá morrer aquele que souber viver. Assim como a vida é o momento presente, e agora, assim também a morte será um momento presente. Por conseguinte, interessa viver bem o momento que Deus nos concede aqui e agora, para enfrentar o momento da morte com classe. Todo tempo é tempo do bom Deus. Tudo, afinal, são graças!

9. Ao se falar de viver bem, não se pretende dizer que é preciso ser perfeito, achar-se em ponto de amadurecimento. É caminhar para a perfeição, como o jovem estudioso que procura estar em dia com a matéria ensinada, por isso vai percorrendo o ritmo do crescimento.

10. O programa a ser exigido no exame final já é conhecido. Trata-se de oferecer nossos préstimos para a edificação simultânea da cidade terrena e do Reino de Deus. Como se fará isso? Mediante o serviço dedicado aos nossos irmãos.

11. O toque de alerta do Senhor é escutado no som de suas palavras e também no impacto dos fatos. Dia de finados tem um sabor de saudade: vêm-nos à mente aqueles que conosco conviveram. É o toque do Senhor advertindo-nos através dos clarões que se abrem ao nosso redor.

12. Nem por isso podemos justificar uma vida à sombra dos mortos, perdidos em recordação. Precisamos de sentir a felicidade de terem sido companhia para nós, sentir a gratidão pelos dias bons que passamos juntos, sentir a missão de levar adiante aquilo de meritório que entre nós plantaram.

* Frei Paulo Gollarte – À Escuta de Deus – Vozes.


Pe. João Bosco Vieira Leite