(Rm 16,3-9.16.22-27; Sl 144[145]; Lc 16,9-15) 31ª Semana do Tempo Comum.
“Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas
também é nas grandes” Lc 167,10.
“Lucas conhece ainda outra atitude diante dos bens deste mundo: a fidelidade na sua administração (Schnackenburg, p. 220). ‘Quem é confiável em coisas pequenas, o é também nas grandes’ (Lc 16,10). A confiabilidade e a fidelidade na administração dos bens terrestres faz supor que a pessoa sabe igualmente lidar bem com os dons espirituais de Deus. O verdadeiro dom de Deus é a salvação, é o próprio Deus que em Jesus se dá aos homens. ‘E se não fostes dignos de confiança quanto àquilo que vos é alheio, quem vos dará a vossa (verdadeira) propriedade?’ (Lc 16,12). Os bens que o homem possuir não lhe pertencem. Pertencem a Deus. Aquilo que realmente nos convém, que corresponde à nossa essência, é a salvação que Deus nos dá em Jesus. Lucas enxerga bem a realidade deste mundo. Para ele, propriedade e dinheiro não são coisas do demônio. Mas ele exorta a um procedimento social. Quem possui riqueza deve vender seus haveres e dar o resultado aos pobres. As exortações de Jesus são realizadas na primeira comunidade de discípulos em Jerusalém. Lá também não se prega simplesmente a pobreza, e sim a comunhão de bens. Os dons desta terra pertencem a todos: ‘Todos os que abraçaram a fé formaram uma só comunidade e partilhavam tudo. Vendiam os seus haveres e bens e repartiam tudo entre todos, segundo as necessidades de cada um’ (At 2,44s). Na sua descrição da comunhão de bens da Igreja primitiva, Lucas combina ‘ideais grego-helenísticos com promessas veterotestamentárias judaicas’ (Ernst, p. 101). Lucas não favorece ideais românticos de pobreza; trata-se antes, para ele, da responsabilidade social da propriedade e da partilha da riqueza, a fim de que todos tenham o suficiente. Com esse ideal, realizado na Igreja primitiva, o evangelista sonha também para seu próprio tempo. É um ideal que atrai também os gregos, transpondo-se as palavras de Jesus sobre a venda de todos os haveres para a situação dos comerciantes e negociantes gregos, e mostrando a eles um caminho para a verdadeira liberdade e a plenitude da vida. É com razão, pois, que a atual teologia da libertação se apoia em Lucas. Ela traduz a mensagem lucana para o nosso tempo. Futuramente, a paz num mundo dependerá sobretudo da possibilidade de a humanidade conseguir uma justa distribuição de bens. A tradução lucana da mensagem de Jesus, portanto, é hoje sumamente atual, não apenas para a ética individual, mas também para a política das nações” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite