Dedicação da Basílica de Latrão

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; 1Cor 3,9-11.16-17; Jo 2,13-22)

1. Hoje celebramos a festa da dedicação da igreja-mãe de Roma, a basílica Lateranense, dedicada inicialmente ao divino Salvador e depois a são João Batista. Essa foi erguida no século IV ao lado do palácio Laterano que, depois da paz de Constantino, tornou-se habitação do papa.

2. Ela foi a primeira catedral de Roma; nela se deram numerosos e importantes concílios ecumênicos. A dedicação da mesma assinalou a passagem da saída das assembleias cristãs das catacumbas para o esplendor das basílicas romanas.

3. A nossa atenção, porém, não se detém em seus aspectos históricos. Nessa festa, cada comunidade cristã de rito latino, expressa sua comunhão com a sede de Pedro, recordando e celebrando a dedicação da própria igreja, seja ela pequena ou grande. Ao mesmo tempo refletimos sobre a importância da igreja enquanto edifício ou espaço sagrado.

4. Os judeus, no tempo de Jesus, tinham a convicção de que Deus havia feito a sua morada no templo de Jerusalém, lá habitava a sua glória. Daí ser o único local para oferecer sacrifícios e celebrar as festas, culminando nas peregrinações obrigatórias durante o ano.

5. Mas Jesus, em seu diálogo com a samaritana, desconstrói essa visão de um lugar único de culto, lembrando que Deus é espírito e os verdadeiros adoradores o adorarão em espírito e verdade. Jesus ensina que o templo de Deus é primeiramente o coração humano que acolheu a sua palavra. O que também nos lembra Paulo na 2ª leitura.

6. Onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome, aí Ele está. É por isso que o Vaticano II chega a chamar a família cristã de ‘igreja doméstica’, um pequeno templo de Deus, pela graça do sacramento do matrimônio, ela se torna lugar onde dois ou mais se reúnem em seu nome.

7. Se tudo isso é verdade, porque damos tanta importância ao templo material? Por que para ele peregrinamos a cada domingo? A resposta é que Cristo não nos salva separadamente uns dos outros; ele veio para formar um povo, uma comunidade de pessoas, em comunhão com Ele e entre si.

8. A morada de Deus entre os homens, que faz referência o Apocalipse (21,3) se chama ‘Igreja’. Lugar de Sua presença entre nós. Aqui não entendida como edifício, mas um povo de redimidos, unidos a Deus pela fé e pelos sacramentos. O edifício sacro é onde se reúne essa Igreja, sinal visível dessa realidade universal e invisível.  

9. A palavra Igreja em sua origem grega tem o sentido de convocar, assim a Igreja é o lugar onde se reúnem os ‘chamados, convocados’ por Deus em Jesus Cristo. O lugar do encontro privilegiado com Deus não por sua beleza, arquitetura, mas sobretudo por ser o lugar onde ressoa a sua palavra e onde se celebra o memorial da Eucaristia.

10. São Pedro em sua 1ª Carta nos lembra que somos pedras vivas na construção desse edifício espiritual, para um sacerdócio santo, a partir do nosso batismo. É a união pela caridade que nos faz casa de Deus. Se estas pedras não se unem, não cria essa ’liga’, ninguém entraria nessa casa, diz Santo Agostinho.

11. Lembrados dessa realidade material, desse espaço onde nos reunimos, pelo seu significado espiritual, se exige da nossa parte respeito, silêncio e veneração. É um lugar ao mesmo tempo, dentro e fora do mundo. Sabermos fazer essa ‘passagem’, do que é profano ao sagrado, que nasce de nossas atitudes.

12. Quantos, no passado, encontraram a Deus simplesmente entrando numa igreja. Por isso precisamos preservar, ou restituir, às nossas igrejas o clima de silêncio, de respeito e de compostura que ela exige. O que faz Jesus santamente se enfurecer em nosso Evangelho. Permitir que a casa de Deus seja de fato um lugar de oração.

13. Temos que estar atentos para não ‘profanar’ a igreja, não banalizá-la. Toda palavra inútil dita em voz alta, como se fosse numa praça, é uma ofensa a santidade do lugar, diminui a sua capacidade de favorecer o encontro com Deus. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite