(Is 2,1-5; Sl 121[122]; Rm 13,11-14; Mt 24,37-44)
1. O Advento é, por excelência, o tempo da esperança. Cada ano esta atitude fundamental do espírito desperta no coração dos cristãos que, enquanto se preparam para celebrar a grande festa do nascimento do Salvador, reaviavam a expectativa da sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
2. A primeira parte do Advento insiste precisamente sobre a vinda última do Senhor. O Evangelho e a 2ª leitura tratam desse aspecto, enquanto Isaías vislumbra um tempo novo para aqueles que se aproximam do Senhor, de Sua casa, e se deixarem guiar por Sua luz.
3. A esperança verdadeira e segura está fundamentada na fé em Deus Amor, Pai misericordioso, que ‘amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu único Filho’, a fim de que os seres humanos e, juntamente com eles, todas as criaturas, possam ter vida em abundância.
4. Assim, desde o seu início, o cristianismo se sobressai por uma nova esperança que distinguia os cristãos daqueles que viviam a religiosidade pagã. Escrevendo aos Efésios, são Paulo recorda-lhes que, antes de abraçar a fé em Cristo, eles viviam “sem esperança e sem Deus neste mundo” (2,12).
5. Esta expressão parece mais atual do que nunca, por causa do paganismo dos nossos dias: podemos referi-la de modo particular ao niilismo contemporâneo, que corrói a esperança no coração do ser humano, induzindo-o a pensar que dentro dele e ao seu redor reina o vazio: nada antes do nascimento, nada depois da morte.
6. Na realidade, quando falta Deus, falta a esperança. Tudo perde a sua ‘consistência’. O que está em jogo é a relação entre a existência aqui e agora, e aquilo que denominamos ‘Além’: não se trata de um lugar onde terminaremos depois da morte; ao contrário, é a realidade de Deus, a plenitude da vida para a qual cada ser humano está, por assim dizer, orientado. A esta expectativa humana Deus respondeu em Cristo com o dom da esperança.
7. O ser humano é a única criatura livre de dizer ‘sim’ ou ‘não’ à eternidade, ou seja, a Deus. O ser humano pode apagar em si mesmo a esperança, eliminando Deus da sua própria vida.
8. Deus conhece o coração do ser humano. Sabe que quem o rejeita não conheceu seu verdadeiro rosto, e por isso não cessa de bater à nossa porta, como peregrino humilde em busca de hospitalidade. Eis por que motivo o Senhor concede um novo período à humanidade: a fim de que todos possam chegar a conhecê-lo!
9. Este é também o sentido de um novo ano litúrgico que tem início: é uma dádiva de Deus, que deseja novamente revelar-se no Mistério de Cristo, mediante a Palavra e os sacramentos. À humanidade que não tem tempo para Ele, Deus oferece mais tempo, um novo espaço para que volte a entrar em si mesma, a fim de que se ponha novamente a caminho, para reencontrar o sentido da esperança.
10. Eis, então, a descoberta surpreendente: a minha, a nossa esperança é precedida pela expectativa que Deus cultiva a nosso respeito! Sim, Deus ama-nos e precisamente por este motivo espera que nós nos voltemos para Ele, que abramos o nosso coração ao seu amor, que coloquemos a nossa mão na sua e nos recordemos que somos seus filhos. Amém.
Pe. João Bosco Vieira Leite