São Pedro e São Paulo – 2023

 (At 12,1-11; Sl 33[34]; 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

1. Ao centro da nossa celebração de hoje está a solene palavra de Jesus: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Muitas coisas contêm essa simples expressão: ‘minha Igreja’. Não ‘minhas’ Igrejas. Ele pensou e quis somente uma Igreja, uma Igreja unida. A atual divisão em que vivem os cristãos deve sempre nos inquietar.

2. O outro elemento aqui presente é a autoridade de Pedro sobre a Igreja. O que deveria ser visto como um serviço à unidade, muitas vezes é visto como um obstáculo à unidade dos cristãos.

3. Desde a escolha de Simão e da troca do nome para Cefa, literalmente não quer dizer Pedro, mas pedra, ‘rocha’, compreendemos que desde o princípio, Jesus tinha um projeto bem preciso sobre este discípulo. E esse projeto se revela no evangelho de hoje. O seu papel diante da Igreja está fora de discussão em todo o Novo Testamento.

4. Há quem pense que tal função de Pedro seria tão somente para os vinte ou trinta anos de vida da Igreja. Que esta cessaria com a morte do apóstolo. O papel de Pedro se prolonga nos seus sucessores. Por todo o primeiro milênio, este ofício de Pedro foi reconhecido universalmente em toda as Igrejas, mesmo se interpretado diversamente no Oriente e no Ocidente.

5. Os problemas e divisões aparecem ao início do segundo milênio. E sabemos que os problemas surgidos não foram gerados somente pelos de fora. Como em todas as realidades humanas, esse primado instituído por Cristo foi exercitado ora bem e ora não tão bem. Ao poder espiritual se misturava, por complexos fatores históricos, o poder político e terreno, e com esse os abusos.

6. Foram estas coisas que favoreceram as ‘rebeliões’, primeiro da Igreja Oriental ao começo do 2ª milênio e da reforma protestante em sua metade. João Paulo II deu início a uma revisão de vários fatos acontecidos, desenvolvendo uma vasta discussão nas várias Igrejas e nessa direção pediu perdão as Igrejas irmãs.

7. Esse caminho aberto por João Paulo tem sido seguido com mais ou menos intensidade. Assim como nenhum país sobrevive somente com uma constituição e sua interpretação, não basta à Igreja ter a Bíblia e o Espírito Santo para interpretá-la. É preciso uma liderança ou governo, para continuar existindo.

8. O papa é um dom para a Igreja, uma autoridade, um ponto de referência. Faltando uma autoridade clara, eleita em modo transparente pelos outros, muitas vezes a alternativa é aquela de chefes que se auto deleguem, com as consequências que se possam imaginar para os que devem obedecer.

9. Um caminho que nós católicos devemos fazer para aplainar a estrada da reconciliação entre as Igrejas é começar a se reconciliar com a nossa Igreja. Se Jesus reconhece a Igreja como sua e não se envergonha disso, pois em seus lábios a palavra ‘Igreja’ não tem os sutis significados negativos que nós acrescentamos.

10. Já comentamos que para além do divórcio jurídico, existe aquele do coração, que é mais comum do que pensamos, que homem e mulher vivem, debaixo de um mesmo teto. Negar a Igreja é como negar a própria mãe porque é nela que fomos gerados desde o nosso batismo e fomos nutridos com os sacramentos e a Palavra.

11. Dizia São Cipriano que “Não pode ter Deus por pai quem não tem a Igreja por mãe”. Santa Teresa D`Ávila, assaltada por fortes tentações, encontrava conforto e segurança em repetir para se mesma: “Sou filha da Igreja”. Aprendamos a dizer como Jesus: “a minha Igreja!”. Já seria um bom fruto desta festa dos santos Pedro e Paulo. 

Pe. João Bosco Vieira Leite