15º Domingo do Tempo Comum – Ano A

 (Is 55,10-11; Sl 64[65]; Rm 8,18-23; Mt 13,1-23)

1. Ao centro da liturgia de hoje está o tema da palavra de Deus. Na 1ª leitura se fala dela com a imagem da chuva que desce do céu e para lá não retorna sem antes ter irrigado a terra, tê-la fecundado e feita germinar, para que dê a semente ao semeador e o pão para alimentar-se.

2. No Evangelho se volta a falar da palavra de Deus, desta vez com a imagem da semente que cai ora entre as pedras, ora sobre espinhos, ora sobre terreno bom e dá seus frutos. Mas eu gostaria de me deter sobre um tema sugerido pela 2ª leitura que aparece somente nesse ciclo: o tema da ecologia e do salvaguardar a Criação (Rm 8,20-22).

3. Este texto nos fala de uma solidariedade, para o bem e para o mal, na liberdade e na escravidão, entre o ser humano e o criado. Juntos gemem, juntos esperam, mesmo se o gemer humano seja fruto da corrupção da sua liberdade, o da criação é participação ao destino do ser humano.

4. Paulo vê o Cosmo como algo dinâmico, no seu esforço que tende para uma harmonia e uma ordem superior (‘novos céus e uma nova terra’). Sua visão é muito próxima da evolucionista dos nossos tempos. Assim temos dois modos de falar de ecologia e da Criação: uma parte do ser humano e a outra de Deus.

5. Nesse primeiro momento o ser humano está ao centro. E assim não se preocupa das coisas por elas mesmas, mas em função do ser humano: por um dano irreparável que é o esgotamento de recursos, a poluição do ar, da água ou o desparecimento de espécies animais, coloca em risco a vida no planeta.

6. Poderíamos pensar: ‘Salvemos a natureza e a natureza nos salvará’. A coisa não é tão simples. Os interesses humanos variam de nação para nação, de um hemisfério para o outro, e é difícil colocar-nos de acordo. As conferências climáticas que o digam.

7. A fé nos ensina que devemos respeitar a criação não só por causa dos interesses egoístas, para não prejudicarmos a nós mesmos, mas porque a criação não é nossa, é de Deus, é a obra prima do Espírito de Deus que a tirou e a tira continuamente do caos para torná-la cosmo, isto é, algo belo, harmonioso, perfeito.

8. É verdade que ao início da Criação Deus disse ao homem de ‘dominar’ a terra, mas em dependência d’Ele, da Sua vontade, como administrador e não como patrão absoluto. Todos viemos do mesmo criador; somos telas diversas de um mesmo pintor. Assim entendeu Francisco de Assis, que a tudo chamava de irmão e irmã.

9. Esse modo de colocar-se diante da natureza, inspirado pela fé, não é só poético, mas pode determinar atitudes verdadeiramente novas e ‘ecológicas’, também no sentido moderno. Quando usamos as coisas mais que o necessário, estamos privando alguém daquele bem, e se pensar nas gerações futuras ajuda, pensemos...

10. Deus escreveu dois livros: A Bíblia e a Criação; um é feito de palavras, o outro de coisas. Este segundo é um livro aberto diante de todos; todos podem lê-los, até mesmo os analfabetos. Por isto, muitas vezes, a Bíblia recorre aos fenômenos e elementos naturais para instruir-nos nas verdades espirituais.

11. Devemos reaprender a contemplar a natureza. A contemplação é uma grande aliada da ecologia. Ela nos permite gozar das coisas sem a necessidade de possuí-las ou tirá-las dos outros. Jesus era um grande contemplador da natureza. Suas parábolas nos atestam o amor com que contemplava as coisas.

12. Talvez por isso, possamos compreender seus milagres como se a natureza, à sua passagem, suspendesse suas leis e fizesse uma exceção, como se faz quando chega um amigo (Caná). O salmo de nossa missa nos convida a olhar a natureza com olhos plenos de maravilha e a louvar o criador de tudo.

Pe. João Bosco Vieira Leite