16º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Sb 12,13.16-19; Sl 85[86]; Rm 8,26-27; Mt 13,24-43)                                                                                                               

1. A parábola do joio e do trigo está construída a partir dos contrastes. Sejam eles de personagens, gestos, mentalidade, sobretudo. O cenário é um só. Um campo. O dono que semeia a boa semente. Mas, uma noite, chega também o inimigo que semeia o joio no meio do trigo.

2. Entre os dois gestos há uma clara oposição. O adversário cumpre a sua tarefa rapidamente, aproveita o escuro, enquanto todos dormem, intervém no trabalho alheio para destruí-lo, depois desaparece. Não o vemos mais. Mas o dono do campo é sempre presente. Sua ação não está limitada ao início.

3. Ele não perde de vista o seu campo, da semeadura à colheita. Age, fala, explica. Sobretudo, não abandona a própria obra. Ele não é só o dono do campo. É dono também do tempo. Não é tomado pela impaciência, ainda que a presença do joio espalhado pelo campo não lhe dê prazer.

4. Mesmo assim ele se opõe ao intempestivo agir dos empregados. Justo eles que dormiam enquanto o inimigo agia. É mais fácil dar-se conta do mal quando este já causou danos irreparáveis que preveni-lo, tolher sua ação, ser vigilante, lúcido. É mais fácil denunciar que testemunhar. É mais fácil reclamar do que ocupar-se.

5. O dono não quer essa limpeza do campo. Está preocupado com a semente: “Pode acontecer que arrancando o joio, arranqueis também o trigo...”. essa frase constitui o ponto principal. O ensinamento da parábola. Deus tem tempo. Deus dá tempo. Deus precisa de tempo. Deus sabe esperar.

6. Sua ação está fixada para o fim, no momento da colheita, quando se fará a separação. Não antes. Somos nós que temos pressa. Nós com a nossa mania de separar, avaliar, descriminar, selecionar, classificar. O termo joio, substitui aqui a palavra cizânia, que em hebraico, deriva da mesma raiz de Satanás, que por sua vez trás a ideia de ‘disputar’, ‘dividir’.

7. Gostaríamos de ter essa precisão entre o Reino de Deus e o reino do mal. Dos bons de um lado e os maus do outro. Aqui, a verdade. Lá, o erro. Sem nuances. Um dos erros da pessoa religiosa é fazer coincidir a santidade com a separação. Ter as coisas bem definidas em termos de bons e maus.

8. Com o pretexto de combater o mal, são sempre contra alguém. O joio é uma planta parasita. Há muitos que para serem servidores do bem, precisam de um inimigo. Sem esse não saberiam o que fazer. Mais que produzir algo, estão apenas focados no que fazem os outros.

9. A parábola quer nos lembrar algumas coisas importantes: a presença do mal não representa um fato excepcional. É a norma. Tanto na Igreja como no mundo. Não há porque nos admirarmos do mal misturar-se ao bem. Que cresçam juntos. Que coexistam. A Igreja, como sabemos, é santa, mas feita de pecadores.

10. Não temos o direito de adiantar o juízo final. Este compete a Deus. Não temos a métrica exata para o julgamento. Nossa ação está situada no campo da compreensão, da tolerância, do respeito, da paciência.

11. O bem e o mal não estão delimitados em territórios bem precisos. A linha que separa o bem do mal não passa através de indivíduos ou grupos. Ela passa pelo coração de cada ser humano. Por isso não podemos nos iludir de ser totalmente uma coisa ou outra. Em nós reside sempre as possibilidades. Denunciar o que vai fora, sem olhar dentro de si, nem sempre é o melhor ou mais honesto.

12. Podemos olhar o campo do mundo e enxergar exclusivamente porcaria, corrupção, violência, maldade, falsidade. Mas tem quem, sem ignorar essas coisas, vê também o bem, a generosidade, o limpo, o honesto, a coerência. Há quem detecte a obra do inimigo sem aperceber-se da ação de Deus no mundo.

13. Mais que aprendermos o tempo de Deus, precisamos que Ele nos empreste o seu olhar. Ele vê diferentemente o campo. Esse seu tempo é repleto de esperança. Aquilo que a princípio era joio, ou que parece joio, possa tornar-se, sob o influxo benéfico da espera, algo bom, e que tenha o pleno direito de habitar os celeiros eternos.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite