Segunda, 01 de maio de 2023

 (At 11,1-18; Sl 41[42]; Jo 10,11-18) 4ª Semana da Páscoa.

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” Jo 10,11.

“Aproximando-nos sem prevenções da alegoria do pastor, percebemos a boa estruturação que João dá a essa fala de Jesus. Depois da afirmação dupla de ‘Eu sou a porta’, segue duas vezes a asseveração ‘Eu sou o bom pastor’. Em grego se usa duas vezes o adjetivo ‘kalos’, que significa literalmente ‘bonito, correto, certo’. Jesus é o único pastor verdadeiro, o pastor que corresponde à essência do ser pastor que é descrito na Bíblia, por exemplo, no salmo 23, ou no modelo pastoral do profeta Ezequiel (Ez 34). Repetidamente Jesus explica em imagens diversas o que entende por um bom pastor. Em 10,11 diz: ‘O bom pastor se despoja da própria vida por suas ovelhas’. Os empregados contratados fogem quando o lobo se aproxima. Os mercenários só aparecem depois de Jesus já ter dado a vida pelas ovelhas. Jesus está se referindo ao futuro. João deve ter pensado num certo tipo de ministro que dirige a comunidade visando o seu próprio bem-estar. As ovelhas o seguem porque conhecem a sua voz. Mas este recua logo que se avizinha o perigo, abandonando as ovelhas aos lobos vorazes. Com a imagem do bom pastor, Jesus explica a sua morte. Ele entrega a vida por suas ovelhas. A sua morte não é expiação de nossos pecados, e sim expressão de sua própria existência, de seu ser por nós, de seu amor às ovelhas. Jesus dá a vida pelas ovelhas, para que estejam protegidas contra os lobos, contra os perigos da vida. Como entender isso? Podemos entender esses perigos em sentido histórico. Seria, então, uma referência à exclusão dos cristãos da comunidade judaica e ao aliciamento dos cristãos pelos fariseus. Mas como se trata de uma linguagem figurativa, deve haver um sentido maior. Assim, a imagem remete ao mistério do homem ao mistério de Deus. Estamos em perigo por causa do autodesprezo, de modelos psíquicos que inibem a vida, de ofensas e injúrias, de volubilidades e desorientação. Quando Jesus afirma de si mesmo que dá a vida pelas ovelhas, trata-se de uma expressão de amor incondicional. O maior perigo que ronda o ser humano consiste na falta de amor e nas consequências que esta falta acarreta. Quem não se sente amado se rejeita a si mesmo, se condena, torna-se duro, frio e vazio, é incapaz de amar a si mesmo e aos outros. Torna-se necessário, então, um amor que não se poupa, que não recua nem mesmo diante da própria morte para curar-nos da ferida mortal da falta de amor” (Anselm Grun – Jesus, porta para a vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite