Quinta, 13 de abril de 2023

(At 3,11-26; Sl 8; Lc 24,35-48) 

Oitava de Páscoa.

“Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede!” Lc 24,39a.

“A palavra ‘ego eimi autos’, ‘sou eu mesmo’, é uma resposta à filosofia estoica. No estoicismo ‘autos’ significa o núcleo da pessoa, o santuário interno da pessoa, o domínio interno do ‘eu’, a morada de Deus dentro da alma. Lucas insiste muitas vezes na palavra ‘autos’, referindo-se sempre ao Senhor. O Cristo é ‘ele mesmo’. Trinta e quatro vezes Lucas inicia uma frase com ‘kai autos’, ‘e ele, ele mesmo’, ao passo que isso nunca acontece em Mateus, apenas três vezes em Marcos. Também nos Atos dos Apóstolos Lucas nunca usa essa expressão. Isso mostra que ela se refere exclusivamente ao Cristo. Então, quando agora o ressuscitado diz: ‘Sou eu mesmo’, temos a resposta ao anseio filosófico da filosofia estoica. No estoicismo, as pessoas desejavam ansiosamente libertar-se das preocupações e necessidades deste mundo. Queriam penetrar no seu verdadeiro ‘eu’, no santuário interno, onde já não pudessem ser lesados por ninguém. ‘Ressurreição’ significa também para nós que nos tornamos totalmente nós mesmos, livres das superficialidades do cotidiano, livres do poder dos outros, das suas expectativas, das suas pretensões, dos seus julgamentos, e que nos levantamos do irreal para o real, entrando no santuário interno, onde Deus mora dentro de nós, e onde entramos em contato com a imagem inalterada e intacta que Deus tem de nós. Jesus, o ressuscitado é, para Lucas, o protótipo daquilo que cada um de nós poderia e deveria ser” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite