(Jl 2,12-18; Sl 50[51]; 2Cor 5,20—6,2; Mt 6,1-6.16-18) Cinzas.
“Agora, diz o Senhor,
voltai para mim com todo vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai
o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e
compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” Jl 1,12-13.
“Nos primeiros dois
capítulos do profeta Joel fala-se de um flagelo terrível que atingiu o povo:
uma invasão de gafanhotos. Esse acontecimento é interpretado como uma
antecipação do ‘dia do Senhor’ – tema muito caro à tradição profética (cf. Jl
1,15-16; 2,10-11; Ml 3,2.23) – que se apresenta com perturbações cósmicas
terríveis. Ao mesmo tempo a experiência da calamidade leva a uma liturgia de
luto e de penitência. No texto que hoje a Igreja nos propõe para meditação é o
próprio Senhor que exige uma pronta resposta de conversão (v. 12): o verbo
‘converte-vos’ (v. 12); ‘rasgai os vossos corações’ (v. 13). Todos os membros
do povo de Deus são chamados indiscriminadamente à oração para implorarmos o
perdão. [...] Nas assembleias litúrgicas que hoje se reúnem para iniciar a
caminha penitencial da Quaresma com o rito solene e austero da imposição das
cinzas, cumpre-se uma vez mais a palavra profética que nelas se proclama: um
povo que se reúne para pedir perdão a Deus e para elevar até Ele as suas súplicas.
Um povo que deseja acolher o convite a ‘converter-se’, a ‘rasgar o coração e
não os vestidos’; um povo que se deixa ferir pela palavra forte de Deus, mas
que sabe que pode regressar porque quem o chama é um Senhor ‘clemente e
compassivo, paciente e misericordioso’. É interessante notar que nos versículos
17-18 o argumento no qual se baseia para provocar a misericórdia de JHWH é o
mesmo que se encontra na oração de Moisés em Ex 32,11-12 (cf. também Sl 42,4.11
79,10; Mq 7,10; Ml 2,17): que ninguém possa dizer que Deus não intervém em
favor dos Seus filhos. Convida-se Deus a mostrar o Seu ciúme, isto é, o Seu
excesso de amor que se manifesta também na compaixão pelo seu Povo. Hoje,
portanto, esta palavra é anunciada e cumpre-se ao mesmo tempo: Deus chama, o
povo reúne-se; o Santo convida à conversão, o povo jejua e pede perdão; o Pai
concede uma bênção, um tempo favorável (cf. segunda leitura) e os filhos
lembram-Lho, para que também eles se tornem conscientes de que são Sua
propriedade especial entre todos os povos” (Giuseppe Casarin – Lecionário
Comentado [Quaresma - Páscoa] – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite