Quarta, 15 de fevereiro de 2023

(Tg 1,19-27; Sl 14[15]; Mc 8,22-26) 

6ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele.

Colocou as mãos sobre ele e perguntou: ‘Estás vendo alguma coisa?’” Mc 8,23.

“’Vês alguma coisa?’ Pode até ser que sim. Mas será que vemos a realidade em si? Platão já dizia que vemos apenas as sombras, pois a verdadeira realidade seria a do mundo das ideias. Filósofos mais recentes afirmam que podemos conhecer apenas o fenômeno e não a coisa em si. E, para não ficarmos tão-só nesse mundo intrincado dos filósofos, peguemos um microscópio e olhemos, por exemplo, o leite. Sob aquela plácida brancura apresentada aos nossos olhos nus, veremos um mundo quebrado e conturbado. Vemos de fato alguma coisa? Quando, pois, dizemos que um cego nada vê, na verdade afirmamos apenas que ele não tem as sensações dos fenômenos que nos enganam. Filosoficamente falando, sua perda não é grande coisa. Na vida prática, porém, a coisa é outra. E é o lado prático das coisas que Jesus leva em conta. Observa a dependência total daquele homem e resolve curá-lo. Mas, além do lado prático voltado para o dia-a-dia, Jesus abre os olhos daquele homem para verdadeira realidade, que é Deus. Não lhe apresenta uma ideia abstrata de um Deus longínquo, mas a experiência concreta do Deus em amor. Se, então, nessa babel de ideias e ideologias, sentidos e sentimentos em que nos encontramos, formos perguntados: ‘Vês alguma coisa?’ – talvez, mesmo sem vermos nada, respondamos que vemos tudo. Se, porém, o amor de Deus estiver em nós, mesmo não vendo nada, veremos em essência tudo – porque Deus é amor. – Senhor Jesus, cegos neste mundo confuso, nós nos perdemos com tantas coisas que vemos. Pega-nos pela mão e abre-nos os olhos para ti porque não és para nós apenas explicação, mas verdadeira vida. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite