(Tg 1,19-27; Sl 14[15]; Mc 8,22-26)
6ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus pegou o cego
pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele.
Colocou as mãos sobre
ele e perguntou: ‘Estás vendo alguma coisa?’” Mc 8,23.
“’Vês alguma coisa?’ Pode
até ser que sim. Mas será que vemos a realidade em si? Platão já dizia que
vemos apenas as sombras, pois a verdadeira realidade seria a do mundo das
ideias. Filósofos mais recentes afirmam que podemos conhecer apenas o fenômeno
e não a coisa em si. E, para não ficarmos tão-só nesse mundo intrincado dos
filósofos, peguemos um microscópio e olhemos, por exemplo, o leite. Sob aquela
plácida brancura apresentada aos nossos olhos nus, veremos um mundo quebrado e
conturbado. Vemos de fato alguma coisa? Quando, pois, dizemos que um cego nada
vê, na verdade afirmamos apenas que ele não tem as sensações dos fenômenos que
nos enganam. Filosoficamente falando, sua perda não é grande coisa. Na vida
prática, porém, a coisa é outra. E é o lado prático das coisas que Jesus leva
em conta. Observa a dependência total daquele homem e resolve curá-lo. Mas,
além do lado prático voltado para o dia-a-dia, Jesus abre os olhos daquele
homem para verdadeira realidade, que é Deus. Não lhe apresenta uma ideia
abstrata de um Deus longínquo, mas a experiência concreta do Deus em amor. Se,
então, nessa babel de ideias e ideologias, sentidos e sentimentos em que nos
encontramos, formos perguntados: ‘Vês alguma coisa?’ – talvez, mesmo sem vermos
nada, respondamos que vemos tudo. Se, porém, o amor de Deus estiver em nós,
mesmo não vendo nada, veremos em essência tudo – porque Deus é amor. – Senhor
Jesus, cegos neste mundo confuso, nós nos perdemos com tantas coisas que vemos.
Pega-nos pela mão e abre-nos os olhos para ti porque não és para nós apenas
explicação, mas verdadeira vida. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado
Hoffmann – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite