(Nm 6,22-27; Sl 66[67]; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21)
1. Na oitava de Natal, ao início
do ano civil, a liturgia nos apresenta a figura de Maria, Mãe de Deus. E
assim, nesses dias festivos, temos sua presença discreta, que nos fala da
solicitude e da proteção materna que também nos acompanhará ao longo dos dias
que virão.
2. Como estamos iniciando uma
nova caminhada no tempo, a 1ª leitura nos recorda a bênção que o sacerdote
pronuncia no templo por ocasião do Ano Novo. Só Deus pode realmente abençoar,
bendizer, ‘dizer bem’; os humanos abençoam invocando o nome de Deus.
3. Paulo nos fala da humanidade
de Jesus, ‘nascido de mulher’, da sua pertença à sociedade humana. Por isso,
comemorando a vinda de Cristo, pensamos especialmente na ‘mulher’ que o
integrou em nossa comunidade humana.
4. Dando continuidade à missa da
noite de Natal, temos além da visita dos pastores, a circuncisão ao oitavo dia
e a imposição do nome: Jesus, ‘Deus salva’. Ele é acolhido como qualquer um de
nós se tivesse nascido naquela sociedade.
5. Ela é mãe de Jesus, o
nazareno, mas como tornou-se mãe de Deus? Como se conjugam essas duas
maternidades? Na realidade é uma só. O título de Mãe de Deus foi conferido pelo
Concílio de Éfeso no ano de 431.
6. Mas foi vinte anos depois, no
Concílio de Calcedônia que se chamou a Jesus de ‘verdadeiro Deus e verdadeiro
homem’. É por ser a mãe de Jesus humanamente que Maria é chamada de Mãe de
Deus! Pois não podemos separar a humanidade e a divindade de Jesus.
7. As narrativas da infância de
Jesus nesses dias revelam toda essa movimentação de diversos personagens em
torno de Jesus, levando sua mãe a refletir sobre o significado de tudo a partir
do seu coração. Aprendemos também com ela sobre sua maternidade oblativa, não
possessiva e da sua fé vivida no cotidiano.
8. Desde o evangelho de ontem,
da Sagrada Família, encontramos na revelação de Simeão a Maria a compreensão
que ela buscava para alguns fatos. Seu filho não lhe pertencia. E isso vai
ficar bem claro quando voltarem ao Templo na 1ª peregrinação do adolescente
Jesus.
9. Desde que O tinha em seu
ventre, ela percebeu que seu Filho veio para ir ao encontro dos outros. É ele
que o leva até a casa de Isabel, até João Batista e Zacarias. É na visita a
Isabel que Maria exprime seu dinamismo de participação, de partilha, de alegria.
10. Assim, nós cristãos,
deveríamos compreender que Cristo não é uma propriedade privada, não é somente
nosso. Ele veio para todos. Uma das coisas que me agradam e me fazem rir na
série “Os escolhidos” é que os discípulos estão sempre procurando a Jesus, que
lhes escapa, que está entre as pessoas, conversando ou ajudando-as.
11. Não estou com isso negando
esses momentos de intimidade que cultiva com o Pai, ou mesmo aquele que viveu
no seio de sua mãe, ou mesmo na casa de Nazaré, sob os cuidados de seus pais.
Mas meditando em seu coração, ela percebe algo bem maior em todo esse movimento
ao seu redor...
12. Memória e reflexão foram
dois elementos que fizeram parte da vida de Maria, que com a ajuda da própria
fé foi avançando em seu caminho nada fácil. Sem o anjo da anunciação, ela
deverá interrogar os fatos cotidianos para saber alguma coisa do mistério da
própria existência.
13. Cada vez que tiver que dizer
‘sim’, haverá um aumento de consciência, de abandono confiante e de acolhimento
antes mesmo de saber toda a resposta. Uma vivência de fé que também nos
desafia. Que os novos dias que se aproximam sejam verdadeiramente ‘novos’,
porque abertos às surpresas de Deus.
Pe. João Bosco Vieira Leite