Quinta, 8 de dezembro de 2022

Imaculada Conceição de Nossa Senhora – 2022 (Gn 3,9-15.20; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-28)*

1. Nossa Liturgia da Palavra nessa solenidade da Imaculada nos situa em três tempos: aquele da criação e da queda na 1ª leitura. O tempo da nova criação no anúncio do anjo a Maria, a nova Eva. E no tempo da Igreja que, no dizer de Paulo, toma consciência que em Cristo todos somos vocacionados à santidade e de sermos filhos e filhas no Filho.

2. Na morte e ressurreição de Jesus, Deus Pai inaugurou a nova criação, um modo de viver segundo a vontade de Deus. Jesus nos mostrou um caminho de comunhão com Deus que é obra da ação do Espírito Santo em nós. Ele nos torna sempre mais filhos de Deus, verdadeiros irmãos e irmãs entre nós.

3. A Igreja é, assim, a comunidade daqueles a quem é oferecida a possibilidade de serem homens e mulheres novos, revestidos do Espírito Santo; homens e mulheres cujo coração se assemelha ao de Cristo: dom completo de si e acolhida incondicional de um ao outro. 

4. É verdade, no entanto, que essa possibilidade para todos nós é propriamente um caminho, muitas vezes acidentado, cansativo, feito de quedas e saltos para frente, em que a luz do amor de Deus ainda está escondida sob o véu de nossa pobreza, da nossa pouca fé, das nossas faltas de amor. 

5. Por isso, é necessário ter paciência conosco e com os outros, uma paciência tão grande quanto a do Espírito Santo. Ele é o mestre das maturações lentas. E para não desanimarmos, o Pai nos deu uma esperança segura, um apoio firme, uma certeza de que aquilo que está realizando em nós é eficaz.

6. A liturgia, vez ou outra, nos reapresenta a Virgem Maria. Nela vemos o resultado da ação de Deus; isto é, o que acontece com um ser humano quando este acolhe completamente o Espírito Santo. A pessoa se torna um esplendor de bondade, de amor, de beleza: a ‘bendita entre todas as mulheres’.

7. Ao dar-nos Maria como Mãe, Jesus nos convida a fazermos a experiência dessa total dedicação, cuidado, proximidade de cada filho, de cada filha. Nela vemos de fato um coração de mulher batendo como o de Deus, um coração que bate por todos nós, sem distinção. Ela é verdadeiramente o rosto humano da infinita bondade de Deus.

8. Desde Caná, Maria nos ensina constantemente a nos voltarmos para o seu Filho. Nem ela mesma toma a iniciativa de buscar uma solução para a falta de vinho por conta própria. Como aos servos, ela nos sugere: ‘Fazei tudo o que ele vos disser’ (Jo 2,5).

9. É por isso que os cristãos sempre se voltaram para Ela como seu refúgio, como Aquela que sempre indica o Senhor e convida a confiar incondicionalmente a Ele as pessoas mais queridas, os problemas mais delicados, as situações mais complicadas. Quando parece que já não existe solução, Maria é ‘nossa esperança’.

10. São Cipriano de Cartago, bispo africano e mártir da Igreja do terceiro século, disse que ninguém pode ter Deus por Pai se não tiver a Igreja como Mãe. E em Maria vemos o rosto mais bonito da Igreja-Mãe, vemos o sonho que o Senhor tem para cada um de nós e a esperança que habita em nós, apesar de nossos corações ainda estarem cheios de contradições.

11. E, assim, Maria, enquanto nos acompanha e nos revela que é bom o Senhor, nos enche de coragem, porque seu maior desejo é conduzir-nos todos ao Pai: assim, embora muitas vezes ainda existam divisões entre nós, podemos nos tornar verdadeiramente uma só família em Jesus, seu Filho e nosso Senhor, Rei da misericórdia e Cabeça do Corpo que é a Igreja.

12. Ao celebrarmos de novo a Imaculada Conceição de Maria nesse ano vocacional em nosso país, peçamos à Virgem Maria essa coragem de responder sim ao projeto do Pai em nossa vida; Ele nos visita continuamente na Palavra do Seu Filho e Maria insiste conosco: ‘Façam tudo o que Ele vos disser’.  

 

*Nossa reflexão tem por base a introdução do Papa Francisco no seu livro “Ave Maria”.


Pe. João Bosco Vieira Leite