Imaculada Conceição de Nossa
Senhora – 2022 (Gn 3,9-15.20; Sl 97[98]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-28)*
1. Nossa Liturgia da Palavra nessa solenidade da Imaculada nos situa em três tempos: aquele da criação e da queda na 1ª leitura. O tempo da nova criação no anúncio do anjo a Maria, a nova Eva. E no tempo da Igreja que, no dizer de Paulo, toma consciência que em Cristo todos somos vocacionados à santidade e de sermos filhos e filhas no Filho.
2. Na morte e ressurreição de Jesus, Deus Pai
inaugurou a nova criação, um modo de viver segundo a vontade de Deus. Jesus nos
mostrou um caminho de comunhão com Deus que é obra da ação do Espírito Santo em
nós. Ele nos torna sempre mais filhos de Deus, verdadeiros irmãos e irmãs entre
nós.
3. A Igreja é, assim, a comunidade daqueles a quem
é oferecida a possibilidade de serem homens e mulheres novos, revestidos do
Espírito Santo; homens e mulheres cujo coração se assemelha ao de Cristo: dom
completo de si e acolhida incondicional de um ao outro.
4. É verdade, no entanto, que essa possibilidade
para todos nós é propriamente um caminho, muitas vezes acidentado, cansativo, feito
de quedas e saltos para frente, em que a luz do amor de Deus ainda está
escondida sob o véu de nossa pobreza, da nossa pouca fé, das nossas faltas de
amor.
5. Por isso, é necessário ter paciência conosco e
com os outros, uma paciência tão grande quanto a do Espírito Santo. Ele é o
mestre das maturações lentas. E para não desanimarmos, o Pai nos deu uma
esperança segura, um apoio firme, uma certeza de que aquilo que está realizando
em nós é eficaz.
6. A liturgia, vez ou outra, nos reapresenta a
Virgem Maria. Nela vemos o resultado da ação de Deus; isto é, o que acontece
com um ser humano quando este acolhe completamente o Espírito Santo. A pessoa
se torna um esplendor de bondade, de amor, de beleza: a ‘bendita entre todas as
mulheres’.
7. Ao dar-nos Maria como Mãe, Jesus nos convida a
fazermos a experiência dessa total dedicação, cuidado, proximidade de cada
filho, de cada filha. Nela vemos de fato um coração de mulher batendo como o de
Deus, um coração que bate por todos nós, sem distinção. Ela é verdadeiramente o
rosto humano da infinita bondade de Deus.
8. Desde Caná, Maria nos ensina constantemente a
nos voltarmos para o seu Filho. Nem ela mesma toma a iniciativa de buscar uma
solução para a falta de vinho por conta própria. Como aos servos, ela nos sugere:
‘Fazei tudo o que ele vos disser’ (Jo 2,5).
9. É por isso que os cristãos sempre se voltaram
para Ela como seu refúgio, como Aquela que sempre indica o Senhor e convida a
confiar incondicionalmente a Ele as pessoas mais queridas, os problemas mais delicados,
as situações mais complicadas. Quando parece que já não existe solução, Maria é
‘nossa esperança’.
10. São Cipriano de Cartago, bispo africano e
mártir da Igreja do terceiro século, disse que ninguém pode ter Deus por Pai se
não tiver a Igreja como Mãe. E em Maria vemos o rosto mais bonito da
Igreja-Mãe, vemos o sonho que o Senhor tem para cada um de nós e a esperança
que habita em nós, apesar de nossos corações ainda estarem cheios de
contradições.
11. E, assim, Maria, enquanto nos acompanha e nos
revela que é bom o Senhor, nos enche de coragem, porque seu maior desejo é
conduzir-nos todos ao Pai: assim, embora muitas vezes ainda existam divisões
entre nós, podemos nos tornar verdadeiramente uma só família em Jesus, seu
Filho e nosso Senhor, Rei da misericórdia e Cabeça do Corpo que é a Igreja.
12. Ao celebrarmos de novo a Imaculada Conceição de
Maria nesse ano vocacional em nosso país, peçamos à Virgem Maria essa coragem
de responder sim ao projeto do Pai em nossa vida; Ele nos visita continuamente
na Palavra do Seu Filho e Maria insiste conosco: ‘Façam tudo o que Ele vos
disser’.
*Nossa reflexão tem por base a introdução do Papa
Francisco no seu livro “Ave Maria”.
Pe. João Bosco Vieira Leite