25º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Am 8,4-7; Sl 112[113]; 1Tm2,1-8; Lc 16,1-13).

1. Nossa parábola é um tanto embaraçosa. Um comerciante capta alguns comentários a respeito de um administrador que está cometendo algumas irregularidades. O chama e este nem se desculpa. Sua preocupação é com o seu futuro. Como não é versátil para outras atividades, resolve buscar ou fazer amigos.

2. Convoca os devedores do seu patrão e reduz notavelmente suas dívidas. A uma série de irregularidades se remedia com outras irregularidades. E tudo com a bênção do patrão. Para alguns estudiosos, a aprovação não seria do patrão, mas do próprio Jesus. O que no mínimo seria estranho, mas não nos precipitemos.

3. A aprovação a esse administrador desonesto, não diz respeito a sua desonestidade, mas a sua esperteza, por isso Jesus não pronuncia nenhum juízo moral.

4. Na interpretação de uma parábola, é necessário evitar o erro de encontrar a todo custo um significado, uma aplicação prática, ou algo edificante em cada elemento. O importante é recolher o ‘ponto central’, o motivo dominante, a lição por trás, sem determo-nos nos elementos do contorno.

5. Em nossa parábola, a lição fundamental não é a da injustiça, mas da capacidade de saber sair de uma situação crítica. Deus ama aqueles que são capazes de agir, que não esquecem que têm um cérebro, que recorrem à própria imaginação.

6. De repente, em sua situação dramática, o administrador se lembra dos outros. Não pensava na existência dos mesmos, voltado para si e seus interesses. Descobre a realidade da amizade. Dispõe, mais uma vez dos bens que deve administrar, mas não para si, mas em vantagem do outro. Sua salvação vem dessa abertura ao outro.

7. É uma lição essencial para a Igreja, que não é dona, mas simples administradora e dispensadora dos tesouros do seu Senhor. Portanto, não pode viver num circuito fechado, pensado só em si, na própria segurança, direito, prestígio, poder. Deve fazer circular os bens do seu Senhor.

8. Como o administrador que se declara incapaz de outra atividade, a Igreja deve compreender que o seu serviço, sua especialização é perdoar, usar de misericórdia, compadecer-se, compreender, abrir, libertar.

9. A lição também diz respeito a nós. Ninguém tem as contas em dia. Se Deus resolver dá uma olhada, tremeremos na base. Esse tipo de conta jamais fecha. A parábola nos ensina a agir de modo ‘irregular’. De uma outra maneira, em favor do próximo.

10. De diminuirmos as suas culpas, e não aumentá-las, como fazemos habitualmente, reduzir os seus defeitos, cancelar suas ofensas, não raciocinar em termos de direitos, mas em termos de amor. Nossas mãos se tornam limpas quando nos abrimos a esse gesto de esbanjarmos alegria, luz, esperança.

11. O Senhor espera de nós esse excesso, não a medida justa. Nossa administração pode não ser das melhores, mas ele sabe, ou espera, que encontrará nos outros os pontos positivos, o bem que praticamos. São os outros, são os nossos amigos que nos abrirão as portas do céu que buscamos.       

 Pe. João Bosco Vieira Leite