(Ex 32,7-11.13-14; Sl 50[51]; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32).
1. Esse domingo nos oferece uma mesa da
palavra farta, e para não causar indigestão, fixemo-nos num dado fundamental
que emerge das três parábolas contadas no evangelho.
2. O pastor não se sente rico ou se dá
por satisfeito tendo a suas noventa e nove ovelhas seguras. Ele sai a buscar
aquela que se perdeu. As 99 que restaram não lhe preenchem a ausência da que se
perdeu.
3. A mulher também não se consola
contando as nove moedas que tem em mãos. É pobre e não se resigna a ser
empobrecida daquela moeda que sabe lá onde foi parar. Ela faz todo um movimento
para encontra sua preciosa moeda.
4. Um pai tem dois filhos, um se vai
numa atitude bastante discutível. Mas aquele que ficou, que parece alguém
exemplar, ao menos pela aparência, não o consola da ausência daquele que os
deixou batendo a porta atrás de si.
5. A conclusão é evidente: a
contabilidade de Deus é diferente da nossa. Não se baseia em critérios
quantitativos. Basta um sinal de menos, uma subtração, mesmo pequena, e as
contas para Ele estão no vermelho. Cada pessoa tem um valor único aos olhos de
Deus. Um valor “irrepetível”. Não substituível.
6. Cada um de nós é precioso,
importante. A ponto de requerer obstinada preocupação, solicitude e espera
paciente da parte de Deus. Deus é pobre, se diz. Mas não se resigna de ser
empobrecido de uma só de suas criaturas. Um filho perdido, em seu inventário,
representa um dano irreparável. Não há como compensar.
7. Deus é pobre, mas possui um
patrimônio imenso. O que para nós pode parecer uma perda irrelevante, quase
vantajosa para a tranquilidade da casa, uma cifra irrisória, no seu coração
provoca uma laceração dolorosa que só pode ser recomposta unicamente com a
recuperação daquele minúsculo, incalculável tesouro.
8. O ser humano pode deixar de ser
filho, pode rejeitar o pai, pode estar sem Deus, pode fugir. Mas Deus não se
resigna a ficar sem o ser humano. Mesmo em meio aos seus bens, até mesmo as
boas obras do filho mais velho, aquela casa parece vazia, porque falta um
filho.
9. Quando buscamos o sacramento da
penitência, devemos recordar que recebemos um dom maior da parte de Deus, como
esse filho que é surpreendido pela generosidade do pai. E nós, por sua vez,
devolvemos a Deus algo que lhe tiramos, algo que ele espera: a nossa comunhão
com Ele.
10. Confessar-se significa receber e
dar. Acolher e restituir. A nossa alegria é também aquela de Deus. Não é
exatamente os nossos pecados que levamos a Ele. Levamos a nossa presença, o
nosso retorno, a possibilidade da festa. A possibilidade de um pai ser
‘enriquecido’ de um filho.
11. A Deus não interessa tanto o elenco
dos nossos pecados, mas o desejo de voltarmos a ser ‘filhos’. Mas a parábola
também nos faz ver que a distância de Deus não se mede por quilômetros. Há
filhos que, mesmo em casa, não sentem alegria por observar o que lhes pede o
Pai.
12. As parábolas nos desafiam a uma visão mais
ampla da misericórdia divina, que não deve ser só para mim, mas que se derrama
sobre todos. A questão não é ir embora ou permanecer. Mas permanecer ‘de um
certo modo’, com uma ‘certa compreensão’. Quem sabe assim consigamos nos
alegrar com Ele.
Pe. João Bosco Vieira Leite