(At 14,21-27; Ap 21,1-5; Jo 13,31-35)
1. No discurso de despedida, num
contexto de conspiração, traição, Jesus deixa aos seus amigos um mandamento:
aquele do amor. De cara é bom eliminarmos do termo ‘mandamento’ tudo aquilo que
possa nos soar legalístico ou de constrição.
2. Não se trata de aplicar uma norma de
código, mas de entrar livremente em comunhão, através de Jesus, com o Pai e com
os irmãos. Esse mandamento tem três características: é novo; é vivido imitando
o amor de Jesus e constitui o sinal distintivo do cristão.
3. Só o amor é algo novo, o ódio, a
vingança, a violência, a indiferença, o egoísmo: são todas coisas velhas, que
nos envelhecem e envelhece o mundo. Notícias repetidas. Só o amor constitui o
elemento surpresa, aquilo ‘nunca visto’, que determina o progresso.
4. Cristo deixa claro que essa dinâmica
de amor no cristão tem a ele como referência. Que se reveste de certa loucura
em relação ao ser humano. Ele se traduz no dom de si, no não pertencer-se, no
ser para o outro. Amor que, mais que dar coisas, dá-se a si mesmo.
5. Um amor que não está condicionado a
qualquer qualidade humana, mas à própria natureza divina. Deus não nos ama
porque somos bons, virtuosos, merecedores, mas amando-nos nos faz bons. Por
isso mesmo o amor é criativo, pois confere valor ao objeto do seu amor. Me
torno precioso, desejável, porque sou amado.
6. Nós, ao contrário, temos um amor
reativo. Nos deixamos condicionar pelo comportamento do outro: se me é
simpático, me trata bem, é gentil, generoso comigo, passo amá-lo. É mais
resposta que proposta.
7. O amor que Jesus nos propõe é
criativo, toma a iniciativa, independente da atitude do outro para conosco. Por
isso a caridade torna-se o distintivo do cristão. Não é tão somente um
praticante, um que vai à Igreja, um que dá esmolas, um que recita o credo, mas essencialmente
um que ama.
8. Sem a presença da caridade, sem sua
prestigiosa autenticação, as outras palavras do vocabulário não têm valor, nem
significado. “Ainda, que eu falasse a língua dos homens, se eu falasse
a língua dos anjos, sem amor...” (cf. 1Cor 13,1).
9. A verdade do cristão está no amor
concreto do seu cotidiano. Está em acreditar na força do amor: se tem razão
amando, se vence amando, se ensina amando, coloca-se alguém em pé
amando-a. “Você não é ninguém, até que alguém lhe ame”, diz uma canção.
10. O amor não é um vago sentimento,
uma boa intenção. ‘Eu sinto tanto amor por aquela pessoa’, poderíamos
hipocritamente dizer, quando na realidade é o outro quem deveria sentir-se
concretamente amado por mim.
11. Um amor manifestado com fatos
permite ao outro reconhecer um cristão que atravessa o seu caminho, pela
experiência de sentir-se amado, de ser importante, digno da atenção de alguém.
Creio que seja um pouco disso que Jesus viveu e ensinou para os
seus...
Pe. João Bosco Vieira Leite