33º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dn 12,1-3; Sl 15[16]; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32)

1. A página do evangelho de hoje é tirada do ‘discurso escatológico’ que ocupa o capítulo 13 da narrativa de Marcos. Provavelmente Jesus não pronunciou o discurso como nos é apresentado. Ele contém palavras e sentenças muitos diversas em seu estilo. Coube a Marcos reunir esses vários elementos.

2. Tendo presente a situação da comunidade para qual escreve, tenta responder a algumas exigências específicas. Mas do que trata a escatologia? Ela nos propõe um discurso sobre as realidades últimas, definitivas. Juntamente com e gênero apocalíptico, lança um olhar para as coisas que estão para além da história.

3. A história tem dois protagonistas, na compreensão bíblica: Deus e o ser humano. O profeta que fala em nome de Deus, revela o Seu plano que se dá no momento presente. Se ele se refere ao futuro, é apenas para conferir sentido ao presente, sustentar a esperança dos seus ouvintes e recordar-lhes a meta do caminho: o Reino de Deus que se dá e que virá. 

4. Mas a história atravessa momentos de crise e dramaticidade que parecem contradizer os desígnios de Deus e se deseja ‘ver’ melhor esse fim dos tempos. É aqui que aparece o gênero apocalíptico, na origem da palavra, se ‘retira o véu’ que esconde o fim.

5. Mas isso não quer dizer que o profeta veja o fim com precisão: para decifrar o presente, ele se apoia no passado para infundir esperança. Então sobre que base se sustenta a fé e tais visões? Na fidelidade divina. O gênero apocalíptico utiliza um código de imagens grandiosas e terríveis. São esses elementos que se misturam em nosso evangelho.

6. Mas todas essas imagens apocalípticas servem apenas de moldura para o quadro. A mensagem central não se confunde com esses elementos, ainda que o autor se sirva dos mesmos. Para Marcos interessa uma atitude de vigilância e compromisso histórico.

7. A impressão que temos é que ele nos projeta para o futuro somente para reconduzir-nos ao hoje, para fazer-nos concentrar ainda mais nossa atenção no presente. O foco do seu discurso é o retorno do próprio Jesus no fim dos tempos e está voltado para a comunhão definitiva entre os eleitos e seu Senhor.

8. Aqui se trata dos que se mantiveram fiéis no período da prova e da grande tribulação. Aqui não interessa aqueles que se colocaram fora da proposta de Jesus. A luz se concentra sobre a família de Deus.

9. O evangelho quer sublinhar o triunfo do Filho do Homem. Um triunfo que nas circunstâncias atuais da história é colocado em dúvida, parece um tanto incerto. Pois a comunidade vive perseguições, condenações. Mas eis que tudo repentinamente se inverte: aquele que foi humilhado e condenado, aparece como juiz da história.

10. O retorno do Filho do Homem em poder e glória não significa que Deus, ao fim, abandonará a estrada do amor para substitui-la pela da força, pois assim a cruz não estaria mais no centro da história da salvação. O triunfo do Filho do homem é vitória da cruz, a demonstração de que o amor é forte e vitorioso.

11. Nosso evangelho termina com um forte convite a espera vigilante, que excluem a impaciência e o sono, tanto a fuga para o futuro quanto o permanecer aprisionado no horizonte do presente, tanto o temor como o relaxamento. A questão não é o quando, mas o fazer-se encontrar pronto.

12. O que interessa não é saber como acontecerão essas coisas, mas como deve comportar-se o cristão em sua espera. Os sinais são muitos, imprecisos e até confusos em meio aos fatos da história. O discípulo deve saber recolher e interpretar à luz de Jesus e do seu evangelho.  Em cada acontecimento do presente se joga com o futuro.

 Pe. João Bosco Vieira Leite