1º Domingo do Advento – Ano C

(Jr 33,14-16; Sl 24[25]; 1Ts 3,12—4,2; Lc 21,25-28.34-36).

1. Com o Advento se inaugura o novo ano, segundo o nosso calendário litúrgico. Este tempo concentrado em 4 domingos de preparação ao Natal, teve uma estruturação um pouco incerta, acabando por tomar como referência a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, particularmente no seu aspecto penitencial. ‘Quaresma de Natal’.

2. Com o tempo se percebeu a necessidade de retirar esse aspecto excessivamente quaresmal e resgatar os aspectos da alegre espera, da esperança em si e da serenidade. Sem com isso privar esse tempo das características reflexivas, de oração e purificação.

3. Nesses últimos tempos, a religiosidade popular entendeu essa dimensão fundamental da alegria do Advento, privilegiando, em sua prática devocional, a novena do Natal. Mas há um aspecto que não pode ser esquecido. Aquele do desejo. O Messias veio sobre a terra depois de ser desejado por séculos, nos lembra a 1ª leitura.

4. Assim, ao início de mais um ano, somos colocados nesse período de espera também desse evento definitivo, a chegada de Alguém, e somos convidados a expressar esse desejo de sua vinda. Como está na própria origem da palavra ‘adventus’, na linguagem civil da chegada de alguém importante. 

5. O paradoxo está no fato de esperarmos Aquele que, historicamente, já veio, como nos indica o Evangelho. E Aquele que virá, espera ser acolhido, que se crie espaço para Ele, que lhe prestemos atenção, nos insinua a 2ª leitura. O esforço de Paulo, em suas cartas, era, de certo modo, de despertar, trazer à luz, o cristão que há em cada batizado.

6. Esse personagem importante que vem não vem para receber homenagens formais, cumprir uma visita de cortesia, trocar umas ideias. Mas para uma mudança radical de mentalidade, de coisas. Acolhe-lo significa aceitar seu projeto de transformação que se chama ‘salvação’.

7. Mas o nosso evangelho coloca essa perspectiva de espera numa dimensão apocalíptica judaica, do retorno do Senhor com glória e com poder, despertando a ideia de juízo. Sim, também devemos ter esse olhar para o futuro.

8. Assim, esses dois eventos – a vinda de Cristo na carne e o seu retorno como juiz – são vistas numa mesma perspectiva de eventos salvíficos onde Cristo aparece como libertador.

9. Mas essa espera final não traz o selo do medo, ao contrário, a recomendação é: ‘Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima’. Acolhendo o Cristo na sua vinda misericordiosa, seremos acolhidos por Ele no seu retorno como juiz.

10. Se trata de avizinhar-nos, na esperança, ao Deus que se faz próximo na fragilidade da sua encarnação, acolher o seu perdão, sua paz, sua libertação. Só assim o ‘dia do Senhor’ não nos causará medo. Se trata de vigiar, estar desperto, deixar-se a cada dia inquietar-se em sua Palavra. Viver o tempo presente em seu caráter de decisão.

11. Pensando bem, não é somente nós que vivemos o Advento. Deus também o vive, esperando que o ser humano se decida. Ele veio ao nosso encontro, encurtou distâncias. Mas parece que permanecemos em nossas posições, em nossa imperturbável segurança. Se não quisermos que esse dia ‘caia de repente sobre nossas cabeças’, é necessário aceitar, hoje, essa aproximação de Deus.

 Pe. João Bosco Vieira Leite