29º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Is 53,10-11; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45).

1. No caminho que faz com os seus discípulos, nem sempre é Jesus que vai à frente, às vezes são seus discípulos que se antecipam, como fazem Tiago e João, que já pensam na glória de Jesus, sem mesmo ter atravessado o caminho da cruz.

2. Mais uma vez Jesus é obrigado a fazer a eles e a nós, retornarem. Não é lícito exorcizar a ideia do calvário, transferindo-se logo para o Reino. Não é consentido remover a imagem da cruz, substituindo-a por um lugar de honra. Ao discípulo não basta só compreender o que o Mestre fala, é preciso estar com Ele no lugar justo, no momento justo.

3. Se a nossa obsessão é a de ‘chegar’, Jesus nos diz que devemos ‘acompanhar’. Por vezes pretendemos que Deus assine uma folha em branco. Ainda bem que Ele não entra em nosso jogo de astúcia, pois nem sempre sabemos o que pedimos.

4. Na realidade somos nós que, na oração, deveríamos assinar uma folha em branco e deixar que Deus livremente nos faça conhecer. Paradoxalmente, temos mais a ganhar quando Deus não nos concede o que ‘queremos que faça por nós’. O principal problema da oração está no ‘saber que coisa pedir’. Assim, o mais seguro seria deixar que ele nos peça.

5. Os discípulos querem um lugar de honra, certamente com autoridade e segundo a visão hierárquica que têm do Reino messiânico. A única coisa que Jesus assegura é a participação deles em seu sofrimento e os convida a abandonar qualquer contabilidade de recompensa, pois estão em boas mãos.

6. A renúncia a certas ambições demonstra que confiamos naquilo que o Pai nos preparou. O discípulo é chamado a viver no presente, deixando que Deus programe livremente o futuro. A recompensa já está no próprio seguimento, no ser discípulo.

7. Jesus os faz vislumbrar rapidamente a tirania reinante daqueles que se dizem chefes e parecem grandes no campo político. Diante desse espetáculo de escala de poder e sucesso, os discípulos devem tomar consciência que a opção de Jesus seria o caminho oposto e assim denunciar o aspecto prevaricador do poder.

8. Jesus formula assim um projeto de comunidade, caracterizado pelo anti-poder, no serviço e na dependência uns dos outros. A tentativa de Jesus é abolir certa mentalidade, convertendo ‘libido do poder’ na alegria de servir e assim eliminar o instinto de domínio de um ser humano sobre o outro.

9. Para que as coisas ainda fiquem mais claras, Jesus se apresenta como modelo, justamente Ele que, segundo a tradição bíblica, foi dado ‘todo poder, glória e reinado’ (Dn 7,14). Jesus descontrói essa imagem; seu poder é serviço, sua glória vem na humilhação e sua autoridade régia é dar a própria vida.

10. Jesus apresenta um projeto de comunidade sem poder, não sem autoridade. Mas tal autoridade é caracterizada pelo serviço. É significativo que os três anúncios que Jesus faz de sua paixão se concluem com o verbo ‘servir’. Seu caminho da cruz não é ‘sofrer’, mas ‘servir’, dando a vida. A grandeza está no dom de si. E este não tem limites. Felizes seremos se compreendermos isso, nos dirá Jesus.      

 Pe. João Bosco Vieira Leite