30º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Jr 31,7-9; Sl 125[126]; Hb 5,1-6; Mc 10,46-52).

1. Os caminhos foram feitos para se andar, ou melhor dito, andando se fizeram os caminhos. Mas eis que temos um homem, cego, sentado à beira do caminho, mendigando. Esse relato de Marcos se assemelha com o da cura dos dois cegos de Jericó. Muitos consideram tal narrativa uma repetição desnecessária da narrativa de Mateus (Mt 20,29-31). 

2. Jericó é uma das cidades mais antigas habitadas pelo ser humano; ocupa um lugar privilegiado, tanto na geografia como na história da salvação. Bartimeu, filho de Timeu, havia perdido a vista num acidente o que imediatamente causou a sua exclusão da herança de seu pai, restando-lhe sobreviver às custas de esmolas.

3. Ele ocupa um lugar estratégico por onde passam as caravanas, os ricos comerciantes e os piedosos judeus que subiam para Jerusalém. Nota-se, pela narrativa, que era alguém bem conhecido. Sua rotina é quebrada, um dia, por uma multidão alvoroçada que saia da cidade. Algo estava acontecendo.

4. Com algum esforço, descobriu que se tratava de Jesus de Nazaré. Sabendo quem era Jesus, começou a gritar com todas as forças do seu coração. Chama Jesus pelo nome, sem cerimônias, mas ao mesmo tempo percebe o que os demais não podiam ver: Jesus de Nazaré é o descendente de Davi! O messias anunciado pelas Escrituras.

5. Ao revelar o que os demais não percebiam, de certa forma exigia dele, diante de todos os que haviam escutado seu poderoso grito em oração, que respondesse de alguma maneira. Bartimeu se sente único e diferente dos demais, pede com a segurança de quem vai ser escutado, indiferente ao pedido de calar-se. 

6. Quem sabe esse calar-se não seria por erroneamente ele atribuir a um galileu o título de filho de Davi, pois de Nazaré nada de bom tinha saído até então. Mas nenhuma razão intelectual foi capaz de apagar a convicção do coração. Ele insiste num aumento progressivo da voz. Jesus resolve atendê-lo, antes que aquela gritaria se torne insuportável.

7. Se alguns tentavam impedi-lo, outros o animavam. De um salto, deixando tudo para trás, vai até Jesus. Difícil dizer quem dos dois contagiava a quem com a sua alegria. A pergunta de Jesus parece desnecessária. Que outra coisa poderia solicitar um cego?

8. Jesus queria escutar dos seus próprios lábios a petição. Bartimeu responde com a oração mais curta e eficaz de todo o Evangelho. Ele queria ver essas coisas prazerosas da natureza que nossos olhos não se cansam de contemplar. Caminhar sem ter que apoiar-se em coisas ou pessoas; reconhecer os autores de tantas vozes amigas; distinguir o essencial do acidental e ver o que é invisível para os olhos.

9. A palavra de Jesus é eficaz. Aquele que outrora era cego, recobrou a vista imediatamente. Nesse ‘vai’ de Jesus, ele dá a entender que já está feito. Que ele deve retirar-se. Jesus deve continuar o seu caminho. Bartimeu pode retomar o seu lugar perdido na família, mas em vez de ir-se, fica. Em vez de voltar, vai com Jesus.

10. Várias linhas de reflexão brotam desse evangelho: a importância da manifestação externa da fé. Não basta crer com o coração. É preciso confessar a fé com a boca; a cura leva-nos a pormo-nos de pé e empreender a caminhada. A verdadeira cura nunca é passiva. Seguir a Jesus pode significar uma busca contínua do próprio Senhor. Ele é o caminho, a cura perfeita; a pérola preciosa a ser adquirida.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite