28º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30)

1. O ponto principal da reflexão do nosso evangelho é certamente esse encontro entre Jesus e esta pessoa que busca dar à sua vida religiosa um significado maior. É um homem de posses e de conduta irrepreensível. Mas algo lhe falta. Jesus o faz ver que na realidade ele se encontra apegado aos seus bens, enquanto seu espírito tem desejos maiores.

2. Mas eu gostaria de voltar o nosso olhar para essa pergunta de Pedro diante da dificuldade de alguém preso às suas posses encontrar o caminho do céu: ‘Eis que deixamos tudo e te seguimos’. Poderíamos nos perguntar se por trás da pergunta estaria algum fim interesseiro, um vago sentimento de desgosto ou mesmo um furtivo olhar para trás.

3. O contexto em que se encontram nos atestam que não. Sua preocupação é com o futuro, pois o jovem com quem Jesus acabara de conversar ambicionava a vida eterna. Pedro e seus companheiros não eram ricos, deixaram o pouco que possuíam, sem hesitação, para segui-lo.

4. Ele não duvida das anteriores promessas de Cristo, mas quer uma confirmação. Sua franqueza de caráter não lhe permite calar o que vai no coração. No mais, o que será deles, pois Jesus caminha em direção a Jerusalém, e por duas vezes já havia anunciado o que o aguarda. O futuro parece terrivelmente incerto.

5. Talvez, no nosso caminhar, no meio de nossas observâncias religiosas e ‘quebrar de cabeça’ com os problemas da vida, nos venha no coração também a mesma pergunta. Por certo, como eles, não abandonamos tudo para seguir a Cristo, mas não é menos certo que não se pode ser discípulo sem ter abandonado alguma coisa.

6. Na realidade, não é o momento em que nos decidimos que nos é custoso. A ferida abre-se mais tarde. Por vezes temos tentações em lamentar o que deixamos, sentimos certa diminuição do fervor, desgosto ou desejos que significam querer recuperar o que generosamente se tinha oferecido a Deus.

7. Para alguns a dificuldade de viver a castidade pessoal; o sacrifício é duro para os esposos que descobrem uma falha no ouro da aliança; para uma jovem que espera alguém verdadeiramente cristão para desposar e esse não surge; se pudéssemos voltar atrás, será que teríamos renunciado àquele meio escuso de, quem sabe, enriquecer?

8. Vamos parar por aqui, pois teríamos um rosário de situações em que questionaríamos se vale ou valeu a pena tantos sacrifícios. Talvez, como Pedro, sentimos a necessidade de perguntar: ‘Senhor, apesar de tudo, estamos na verdade? Diz-nos se nos enganamos quando, para te seguir, fizemos os sacrifícios e renúncias.

9. Nesse texto de Marcos, diferente de Mateus (19), Cristo promete uma recompensa singular aos que abandonaram tudo para segui-lo, e acrescenta um estranho favor: perseguições! O pensamento de Jesus não muda. Ele já o havia dito nas bem-aventuranças.

10. Por vezes recebemos ingratidão, a incompreensão e todo gênero de maldade humana, mas esta prova é também uma recompensa. É algo que nos cura dos perigos egoístas da vaidade ou do apreço pelos elogios humanos. Pois só se ataca aquilo que tem força e valor.

11. Que será de nós que damos ao Cristo tudo que podemos? A sorte do Cristão, como entendeu Pedro, não está tanto no que receberá, mas naquilo que a força do Evangelho e a perseverança na fé nos faz experimentar: a certeza de não caminharmos sozinho, que a nossa recompensa é o próprio Cristo, é para Ele que caminhamos.  

Pe. João Bosco Vieira Leite