(Tb 11,5-17; Sl 145[146]; Mc 12,35-37)
9ª Semana do Tempo Comum.
“E uma grande
multidão o escutava com prazer” Mc 12,37b.
“A expressão ‘com
agrado’ modifica o ‘ouvir’. Porque ouvir se pode com as orelhas. Mas o agrado
implica o sentimento, o coração. Ouvir com a orelha não significa entender nem
guardar. Ouvir com agrado significa dar atenção para compreender e estar de
antemão disposto a aceitar. Penso que saber ouvir é qualidade do sábio humilde,
uma qualidade de mestre, ainda que esteja em condição de ‘povo’, de
‘discípulo’. Se o diálogo é pequeno e nos faz falta é porque falamos mais que
ouvimos. O maior elogio que Jesus deu à mãe foi o de que ela ‘ouvia a Palavra
de Deus’ (Lc 8,21). E a queixa que tinha dos fariseus era que ‘tendo ouvidos,
não ouviam’ (Mc 8,18). Um dos sinais messiânicos era que os surdos passariam a
ouvir (Lc 7,22). Mais que com os ouvidos físicos, com os ouvidos da fé e do
coração. Um dia fui chamado a uma família constituída de pai, mãe, duas filhas
e um filho. Não lhes faltava comida. Não lhes faltava casa. Não lhes faltava
estudos. Não lhes faltava saúde. Não faltava vida social. Não faltavam visitas.
O que faltava era ouvido. A frase que mais escutei, quando começamos a falar,
era: ‘Nesta casa ninguém me ouve!’ O único e raro remédio que faltava àquela
família era ‘ouvir-se um ao outro com agrado’. O ouvir com agrado supera as
leis do raciocínio, secundariza o ter ou não ter razão. Faz a verdade
suavemente brotar de onde não se espera, e as pedradas da agressão se
transforma em gostoso afeto. Afinal, na soma da vida, não é a razão a parte
maior, e nunca vi a verdade inteira numa só mão. – Senhor, vou fazer um
pedido que nunca te fiz até hoje: empresta-me, por tempo indefinido, os teus
ouvidos. Com eles quero escutar esse irmão que grita a meu lado, e aquele outro
que silenciou, porque ninguém o escutava. Desconfio que, na voz dele, com os
teus ouvidos, eu ouça tua voz. Amém” (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações
para o dia a dia [2015] Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite