(Tb 12,1.5-15.20; Sl Tb 13; Mc 12,38-44)
9ª Semana do Tempo Comum.
“Eles devoram as
casas das viúvas, fingido fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior
condenação”
Lc 12,40.
“No Antigo Testamento
e no próprio Evangelho, as viúvas simbolizam o que havia de fraco, desprezível
e castigado. Com a ideia de que a morte era castigo merecido por pecado, a
viúva era lembrança que sobrava de algum erro cometido em família e castigado
por Deus. A viúva era a infelicidade personificada e uma espécie de escarmento
social. Por isso, para muitos advogados daquele tempo, chamados ‘escribas’, isto
é, entendidos da escrita, explorar ou roubar uma viúva deixava de ser crime,
era como se prestasse um favor a Deus, castigando a quem só merecia castigo. Os
profetas protestaram contra essa injustiça para com as viúvas e blasfêmia
contra Deus. Blasfêmia, porque se atribuía a Deus uma atitude incompatível com
ele. Jesus toma a viúva como símbolo do pobre entre os pobres, que necessita de
apoio e de carinho. Poderíamos dizer, como símbolo da humanidade, que é
pecadora, sim, mas sobre quem repousam os olhos bondosos e protetores de Deus.
Um exemplo foi a viúva Ana, que foi das primeiras pessoas a ver a chegada do
Salvador (Lc 2,36-38) e ‘por causa dele louvou a Deus e dele falou a todos os
que esperavam a redenção’. A primitiva comunidade cristã se distinguiu muito
pela assistência às viúvas (At 6,1; Tg 1,27), entre as quais estava Maria de
Nazaré que, não tendo outro filho, foi cuidada por João (Jo 19,27) e pela
comunidade servida por ele. A frase em epígrafe se refere aos escribas do tempo
de Jesus. Mas ela tem atualidade gritante, se nos lembramos que ‘viúva’
simboliza os marginalizados, os que não tiveram sorte na vida, os castigados
pelas circunstâncias, os deserdados de voz e vez. – Senhor, deixa-me
chamar-te hoje com um vocativo usado por um dos seus poetas: Senhor Deus, pai dos desgraçados,
que as lágrimas dos desprezados tenham a força do Sangue de teu Filho na cruz!
Amém” (Arnaldo Hoffmann Filho – Meditações para o dia a dia [2015]
Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite