Sábado, 12 de junho de 2021

(Is 61,9-11; Sl 1Sm 2; Lc 2,41-51) 

Imaculado Coração de Maria.

“Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos angustiados, à tua procura’” Lc 2,48.

“Jesus, como menino em desenvolvimento, agradava a todos pela sua inteligência e pelo seu caráter agradável, pela sua beleza e simpatia. Porém, logo depois dessa imagem ideal do Jesus menino, se desenvolvendo, Lucas coloca o polo oposto. Na narrativa sobre Jesus como menino de 12 anos, no templo, Lucas pinta o primeiro conflito familiar. Jesus se torna independente. Não volta de Jerusalém com os pais. Quando, depois de três dias de busca frustrada, eles encontram Jesus no templo, ele está sentado no meio de doutores, ouvindo e fazendo perguntas (Lc 2,46). Na palavra de Maria percebemos uma censura, a dor que o filho lhe causou: ‘Filho, como agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu, aflitos, te procurávamos [sofrendo]’ (Lc 2,48). A reposta de Jesus é incompreensível para os pais. Ele chama Deus de seu Pai. Os pais têm de aceitar que seu filho parece estranho. O que Lucas descreve aqui não é uma família unida, mas uma família com os conflitos que todos nós conhecemos; com sofrimento, porque os filhos são diferentes; com o afastamento doloroso dos filhos, sem que os pais entendam o seu caminho. Depois desse conflito de puberdade, porém, segue novamente a descrição de uma imagem ideal: ‘Jesus foi crescendo em sabedoria e estatura, e na graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52). O ideal e a realidade se revezam. Ambos os polos fazem parte da vida de Jesus; ambos fazem parte da nossa também. É somente na tensão entre proximidade e distância, entre entender e não-entender, entre comunhão e distanciamento, que crescemos até a forma que agrada a Deus, e que corresponde À nossa beleza (Charis) interna. [...] Lucas, então nos ensina que devemos sempre unir, dentro de nós, ambos os polos, a fim de algo de novo possa nascer, e o Cristo possa crescer dentro de nós. Devemos, dentro de nós mesmos, ligar anima e animus, o masculino e feminino, o velho e o jovem, a Lei e a Graça, o consentimento e a objeção. Devemos, como Maria, remexer para lá e para cá, dentro de nós, tudo o que é contraste, reconhecendo e tentando compreender” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite