(Jó 38,8-11; Sl 106[107]; 2Cor 5,14-17; Mc 4,35-41)
1. Depois de concluir os ensinamentos
sobre o Reino através de parábolas, Marcos envereda pela narrativa de alguns
milagres. Agora o Reino está atuando na pessoa de Jesus e os milagres atestam a
sua divindade. Mas é perceptível que permanece ainda uma certa dúvida, envolta
num certo medo que busca uma resposta.
2. Marcos está tentando responder aos
seus ouvintes: ‘Este é Jesus, o Messias, o Filho de Deus’. O Deus bíblico que
se encarnou na nossa história, que domina os elementos hostis da natureza,
conforme nos narra a 1ª leitura e o salmo, onde o mar representa as forças do
mal.
3. Mas não podemos ficar nessa simples
contemplação do ‘milagre’. Se temos uma auto manifestação de Jesus como Deus,
temos também um retrato da fé dos primeiros cristãos no que diz respeito a
experiência eclesial que estão fazendo; a tempestade é também um pequeno
retrato de uma situação.
4. Desde os primeiros séculos, os
padres da Igreja já viam nessa narrativa a própria Igreja açoitada pelas ondas
do próprio tempo, que só não afundava porque Jesus vai com ela nessa travessia,
ainda que às vezes lhe escape a percepção de Sua presença.
5. Mais que o Jesus dormindo na barca,
temos uma fé por vezes adormecida, de uma Igreja que caminha em meios aos
cansaços e esperança para Deus. Por detrás dessa imagem se escondem as
dificuldades de sempre da comunidade eclesial, mas também de cada um de nós.
6. Também nos queixamos: ‘Mestre,
estamos perecendo e tu não te importas? ’ Como a Jó, também a dor nos visita, o
mal parece triunfar e se obscurecem os valores do bem e da virtude, quando
sofremos injustamente, quando a pobreza, a desgraça ou a morte marcam presença
soberanamente em nossa vida.
7. Nossa queixa pode ser uma oração,
mas também uma desconfiança na Providência, dúvida, falta de fé. Certamente nos
sobrará uma reprimenda: ‘Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé? ’.
8. Somente a partir da fé estes
problemas têm resposta assim como as questões iguais às que fazia o paciente
Jó. Será que Deus sabe o que se passa aqui em baixo? É do meio da tempestade
que Deus responde a Jó. Deus sabe o que faz, e o tempo é seu, assim como a
justiça. Nosso esforço é lhe sermos fiéis.
9. Para Paulo, o amor de Cristo nos
pressiona, ou nos impulsiona, como em outras traduções. Para o cristão, esse
amor trazido por Cristo, traz a urgência do novo, de uma resposta de amor ao
outro amor que nos precedeu e nos acompanha em todo momento e situação delicada
e inclusive desesperada que nos possa parecer.
Pe. João Bosco Vieira Leite