(Gn 3,1-8; Sl 31[32]; Mc 7,31-37)
5ª Semana do Tempo Comum.
“Muito impressionados, diziam:
‘Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”
Mc 7,37.
“O povo estava emocionado,
extasiado. E poderia estar de outra forma após milagres e mais milagres
realizados diante do seu nariz? Haverá, por acaso, alguma coisa que mexa mais
com nossas emoções que ver uma pessoa deficiente a vida inteira sendo curada ao
simples som dum ‘Abre-te’? Que o povo, portanto, se emocionasse, se extasiasse
e se maravilhasse! Deus estava em seu meio realizando obras de amor e de poder.
Mas qual a real intenção de Jesus ao praticar tais milagres? Teólogos
tradicionais teriam a resposta na orelha da dogmática ou, melhor dizendo, na
ponta da língua: queria mostrar ao povo a sua divindade. Mas, então, por que
expressamente o proibia de propagar o acontecido? Não, não era a intenção de
Jesus ao curar. Sua real intenção era esta: repartir amor com os carentes
dentre os carentes. É nisso que está o grande milagre de Cristo. Ressaltarmos
seu poder ou, então, a excepcionalidade do ato milagroso não chega ao ponto
central, que é o seu amor. E é também aí que reside a corrente milagrosa de
Cristo no decorrer da história. Como igreja, isto é, como membros pessoais do
corpo de Cristo, estamos integrados nessa corrente. Às vezes, o elo
correspondente à nossa pessoa anda meio enferrujado ou cheio de limo jamais
raspado interrompendo, assim, a descarga de amor que, saindo de Cristo, deve
passar para todos os homens. Vejam só: em nossa omissão e comodismo acabamos
personalizando o ‘desmilagre’ do desamor. Mas (atentemos para esse ‘mas’), se
nos conscientizarmos de que nossa fé é o milagre que vem do milagre do perdão
de Cristo, vamos nós ter forças para barrar o milagre do amor que ele derrama
sobre a humanidade sofrida? – Obrigado, Senhor, pelos repetidos
milagres realizados em nosso favor. Faze de cada um de nós um elo ativo,
elétrico, da corrente de amor com a qual desejas alcançar a todos os homens.
Amém” (Martinho
Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] –
Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite