(Gn 4,1-15.25; Sl 49[50]; Mc 8,11-13)
6ª Semana do Tempo Comum.
“Mas Jesus deu um
suspiro profundo e disse: ‘Por que esta gente pede um sinal?
Em verdade vos digo,
a esta gente não será dado nenhum sinal’” Mc 8,12.
“Nós somos ‘essa
gente’ diante da qual Jesus ‘suspira profundamente’. Ele suspira! Curiosamente
lembramos de um doce chamado ‘suspiro’. Um doce leve, feito à base de puro
açúcar simplesmente. Um doce simples, que não precisa de muita degustação, de
muita saliva para desmanchar na boca. Um doce leve, simplesmente doce, sem
muita sofisticação, mas cujo paladar nos faz ‘suspirar’ de alegria simples,
como a alegria de uma criança. Talvez assim, de modo muito simples, leve, tenha
sido essa constatação de Jesus: Por que insistir em pedir um sinal do céu, se
ao nosso redor, na terra, estamos cercados de sinais? Por que insistir em
buscar no céu, no além, no extraordinário, aquilo que aos olhos ‘desta gente’
já é realidade: a presença de Deus com seu povo, no concreto dos afazeres
diários, nas lidas mais cotidianas e ordinárias? Assim viveu Jesus: corpo a
corpo com as pessoas, no resgate de sua dignidade de filhos de Deus, mostrando
com suas atitudes, com seus posicionamentos a realidade de que não estamos sós
em nossa solidão – Deus está conosco! Não há sinais vindo do céu! Esta prova,
esta certeza como posse definitiva e acomodada, nunca nos será dada! Porque
viver é caminhar na terra, é tatear a presença de Deus nos sinais ao nosso
redor. Olhemos para baixo, ao nosso redor. Parados, olhando para o alto,
deixamos escapar a vida. Deixamos de perceber que há pouco tempo celebramos o
Natal, a memória de que o céu desceu à terra para que a terra se tornasse céu;
a memória de que tornar-se Deus um de nós, nós nos tornamos eternos! – Sim,
Senhor! Queremos suspirar contigo! Queremos abrir os nossos olhos para perceber
sua presença conosco pelos caminhos da vida, por mais acidentados que eles às
vezes sejam. Tu estás conosco. Não precisamos de outro sinal. Ajuda-nos a não
pedir sinais! Aliás, eles não nos faltam. O milagre da vida renova-se a cada
instante. Sua presença nos basta, Senhor! Amém” (Adriano Freixo
Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite