Sexta, 19 de fevereiro de 2021

(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) 

Cinzas.


“Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo,

tornar livres os que estão detidos, romper todo tipo de sujeição?” Is 58,6.

“A passagem do início do capítulo 58 do livro do profeta Isaías apresenta-se como uma autodefesa de Deus, acusado pelas palavras do povo de proceder como se estivesse longe. Que Deus faça a nossa vontade: eis a realidade na qual tantas vezes nos encontramos! Transformamos nossa suposta fé em moeda de troca com Deus. A ausência de proteção divina deveria ser atribuída, portanto, a uma infidelidade de Deus. O profeta devolve ao povo, às pessoas, a acusação. Quantas exterioridades, superficialidades, enganos, falsidades, ilusões em nossas religiosidades ainda hoje! Diante das queixas injustas das pessoas, Deus alerta: muitos de nossos atos de piedade não valem nada, pois andam de mãos dadas com as faltas à justiça e ao amor. O verdadeiro jejum não consiste primariamente em atitudes externas. Consiste, antes, em rejeitar toda injustiça e a se dedicar ao serviço dos outros. Sim, reergamos o mundo com a prática do bem! Deus nos procura em nossa mais profunda realidade. A interioridade proclamada pelos profetas exige, sobretudo, correspondência entre fé e comportamento. Assim, o profeta não prega a eliminação do jejum penitencial. Apenas destaca o seu verdadeiro conteúdo. Jejum, penitência e oração ou, ainda, toda e qualquer prática tida por religiosa são totalmente destituídos de valor e de sentido se não forem vivificados pela caridade e acompanhados das obras de justiça. Assim, o jejum verdadeiramente agradável a Deus consiste em libertar-se do egoísmo e prestar alívio e ajuda ao próximo. – Hoje e sempre, ajuda-nos, Senhor, a descobrir as necessidades do próximo e lembrar-nos que podemos encontrar a maneira de ir-lhe ao encontro, renunciando a algo pessoal. Ajuda-nos a unir cada vez mais a fé e vida, para que nossa oração chegue a ti na sinceridade de nosso coração. Amém (Adriano Freixo Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite