(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15)
Cinzas.
“Acaso o jejum que
prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo,
tornar livres os que
estão detidos, romper todo tipo de sujeição?” Is 58,6.
“A passagem do início
do capítulo 58 do livro do profeta Isaías apresenta-se como uma autodefesa de
Deus, acusado pelas palavras do povo de proceder como se estivesse longe. Que
Deus faça a nossa vontade: eis a realidade na qual tantas vezes nos
encontramos! Transformamos nossa suposta fé em moeda de troca com Deus. A
ausência de proteção divina deveria ser atribuída, portanto, a uma infidelidade
de Deus. O profeta devolve ao povo, às pessoas, a acusação. Quantas
exterioridades, superficialidades, enganos, falsidades, ilusões em nossas
religiosidades ainda hoje! Diante das queixas injustas das pessoas, Deus
alerta: muitos de nossos atos de piedade não valem nada, pois andam de mãos
dadas com as faltas à justiça e ao amor. O verdadeiro jejum não consiste
primariamente em atitudes externas. Consiste, antes, em rejeitar toda injustiça
e a se dedicar ao serviço dos outros. Sim, reergamos o mundo com a prática do
bem! Deus nos procura em nossa mais profunda realidade. A interioridade
proclamada pelos profetas exige, sobretudo, correspondência entre fé e
comportamento. Assim, o profeta não prega a eliminação do jejum penitencial.
Apenas destaca o seu verdadeiro conteúdo. Jejum, penitência e oração ou, ainda,
toda e qualquer prática tida por religiosa são totalmente destituídos de valor
e de sentido se não forem vivificados pela caridade e acompanhados das obras de
justiça. Assim, o jejum verdadeiramente agradável a Deus consiste em
libertar-se do egoísmo e prestar alívio e ajuda ao próximo. – Hoje e
sempre, ajuda-nos, Senhor, a descobrir as necessidades do próximo e lembrar-nos
que podemos encontrar a maneira de ir-lhe ao encontro, renunciando a algo
pessoal. Ajuda-nos a unir cada vez mais a fé e vida, para que nossa oração
chegue a ti na sinceridade de nosso coração. Amém” (Adriano Freixo
Pinz – Meditações para o dia a dia [2015] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite