1º Domingo da Quaresma – Ano B

(Gn 9,8-15; Sl 24[25]; 1Pd 3,18-22; Mc 1,12-15)

1. Os domingos da quaresma não têm o tom penitencial, mas visam nos preparar para celebração da Páscoa na renovação do nosso batismo. Por isso a duas primeiras leituras tratam desse tema logo na abertura, na imagem da aliança feita com Noé e na interpretação dada por Pedro.

2. Para bem celebrarmos esses mistérios, somos convidados a entrar nesse grande retiro de escuta da palavra e da prática de pequenos exercícios de caráter penitencial e devocional. É este caminho que iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, ouvindo as palavras que se repetem no evangelho de hoje: ‘convertei-vos e crede no Evangelho’.

3. A ideia da aliança é uma constante bíblica; é o fio condutor de toda a história da salvação humana por Deus que culmina em Jesus Cristo, que por sua morte e ressurreição realiza a Nova Aliança da qual surge o novo Povo de Deus que é a Igreja. Assim, em cada sacramento essa aliança é renovada: batismo, penitência, eucaristia...

4. Percebemos que Marcos não descreve as tentações de Jesus no deserto, nem tampouco menciona o jejum, mas se limita a constatar esquematicamente, dizendo que foi conduzido pelo Espírito, ficou quarenta dias no deserto, e foi tentado por satanás.

5. Essa cena do deserto é vista também por Mateus e Lucas, e para os três evangelistas, se dá em estreita relação com o Batismo de Jesus no Jordão, conduzido pelo Espírito e preparando-o para a vida pública e missionária. João Batista é tirado de cena e Jesus inicia a sua pregação com um convite à conversão.

6. O tempo a que se refere Marcos não tem a ver com calendário, medido, mas com o da graça de Deus, do seu favor. É a mesma dinâmica usada por Paulo na 2ª leitura da Quarta-feira de Cinzas: ‘Eis o tempo favorável’.

7. Todos nós necessitamos continuamente de conversão, porque somos pecadores. O mal, o pecado não estão só meio de nós, mas também dentro de nós. Por isso a Quaresma nos convida a renovarmos nossa aliança batismal nessa busca de conversão e reconciliação com Deus e os irmãos. Façamos juntos esse caminho.

8. Somos mais uma vez convidados à conversão profunda, de fé; na escuta e na vivência do evangelho encontramos forças para resistir ao materialismo mercantilista, à religião mágica e a tirania dos ídolos, conforme nos narram os outros evangelistas nas tentações sofridas por Jesus.

9. A conversão parte do interior da pessoa, porque é no coração que brota todo mal que faz inabitável o nosso mundo. O cristão convertido refaz seus critérios e sua estrutura pessoal, abandona os ídolos que o escravizam e prefere ser pobre a ser explorador, ser perseguido antes que perseguidor, ser pacífico e não violento, ser irmão e não inimigo, perdoar e não odiar. Esse é o longo caminho a ser percorrido...  

Pe. João Bosco Vieira Leite